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Deixa eu te mostrar




É de um estranhamento gentil o modo como sua imagem entra pelos meus olhos e acende meu sorriso. Enquanto converso sobre os livros que tenho lido, gasto a poesia que sinto inteira em você. Meu coração não anda alerta, pulsa quente e macio debaixo de um cobertor feito de retalhos de serenidade e alguma mágica. Aconteceu que essa noite sonhei com seus cabelos assanhados encostados nos meus ombros e acordei sabendo mais sobre almas que se atravessam para sentir de perto aquilo que comove as entranhas de existirmos.

Enlouquecemos sozinhos e desapegados, cruzamos estradas profundas dentro de nós mesmos, viramos madrugadas conversando, naquele tempo antigo, onde tentávamos nos desvendar e a vida parecia nos presentear com todo o tempo do mundo. Desde então fomos dilacerados de maneiras improváveis, sequestrados por estradas que caminhavam no que éramos, sem permissão para expandirmos todo esse universo de sermos. Hoje me sobra uma vontade ousada de demarcar seus territórios, principalmente quando você fica muito sério, sem camisa e parado assim, com a bermuda muito baixa expondo a cartografia dos teus pelos arrepiados que convidam os meus instintos meio ferozes.

Te sinto sem nenhuma pressa, me interesso pelo seu aparente desinteresse, vejo calma na sua ansiedade, consigo acreditar em muita coisa bonita quando escuto o som da sua risada e não projeto nada. Você em mim cresce livre, sem espinhos ou agressividade. Vai se expandindo enquanto arranco fora o teto, pois tudo o que esse sentir me obriga é avistar o infinito enquanto destaca as galáxias que deixam rastros no meu rosto.

Eu e você não somos nós, mas somos muitos. Viro uma dose dessa bebida quente e quero encostar um pouco mais na sua pele. Seu cangote bagunça as minhas vontades de bicho-fêmea, posso enumerá-las enquanto minha língua descobre seus dentes e nossas roupas enfeitam seu chão. Sim, é um chamado, pode me tocar. Eu não sabia ainda ser melodiável e nessa composição cheia de silêncios você sintoniza acordes que sempre pareceram muito impossíveis.  

Meu nome cresce quando você me pronuncia no diminutivo. Você me conta da vida e eu caio no agora entendendo sobre a simplicidade, como se essa claridade fosse uma grande novidade. Me acostumei a enxergar tudo além, perdendo a grande história de que algumas coisas apenas são. Aqui, no presente. Sua existência me consola de um jeito inédito. Observo seus movimentos e tudo em mim abraça você. Quero te beijar as mãos, as pálpebras, morder seu ombro, bagunçar mais os seus cabelos, caber no carinho do seu jeito de olhar, brindar com uma cerveja gelada e te contar dos meus novos planos

Que existe amor é verso antigo. Permanecemos enquanto tudo se vai — e tanto se foi. Divago sobre sensações místicas mas só queria mesmo é que fossemos andar de bicicleta, olhando o céu e usando o sol enquanto, no caminho, paro e bebo uma água de coco só para adoçar a minha voz ao te dizer que passear em você é mais bonito do que um domingo azul na praia. 

Vem cá.

Comentários

  1. Você não perde esse dom de descosturar os sentimentos tão bem. A palavra tem vida, ela está encarnada, revoando de forma tão simples que fica grandioso. É como um parto, um intestino digerindo amor. E exaspera fácil, exala com liberdade e se faz canto no peito. O teu amor, nas palavras, é sempre luz nas escuridões trançadas pelas angústias. Com um amor tão bonito expresso, este texto levanta qualquer um.


    =)

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  2. Aqui nesse texto, você parece o mar no entardecer. Os sentimentos profundos são todos cobertos por uma água aparentemente calma. Uma escrita em ondas que quebram calmas no nosso ouvido e no coração. Mas, provocam suspeita de qual universo revolto essas águas encobrem. Quais palavras engoliu com a bebida quente? O que foi que as palavras doces depois da água de coco quiseram resumir?

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    1. A saudade que eu tava dos teus comentários, Tâm! Na verdade, a saudade que sinto em te ler... Volta a escrever, por favor. E ah, obrigada por enxergar tanto e tudo. Você é uma coisa que não existe de tão linda.

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  3. eu já perdi a conta de quantas vezes eu li isso aí. sentindo cada palavrinha. não consegui dizer nada antes, porque não tenho tido palavras pra nada, mesmo. só tô conseguindo sentir muita coisa. mas mais uma vez você chegou num dia que eu precisava. que eu preciso, na verdade. preciso sentir toda essa esperança, essa leveza que esse texto me faz sentir. Li e leio de coração aberto, com olhos marejados, esse texto cheio de novas possibilidades de sentimentos bons. É só disso que eu preciso.

    era pra ser um abraço, mas veio em forma de texto.

    obrigada de novo. <3

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  4. O que eu acho mais bonito da tua escrita é que ela tem ritmo, as palavras dançam e se abraçam umas às outras formando esse texto que é também música que é também vida. Então a gente lê e se sente vivo, pulsando de um jeito diferente. Um diferente bem bom, sabe? Sabe sim.

    Te abraço porque você me abraça. Sempre.

    Fica-bem-daí-que-eu-fico-bem-daqui.

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  5. Jaya amada
    Maravilhosa desenvoltura motivada pelo amor que vibra dentro de vc..
    a atração faz isso em nós.. nos coloca um par de asas para que possamos flutuar em leves brisas perfumadas pelo sentimento verdadeiro que emanamos ao outro..
    a poesia nos torna pecadores de amor..
    e sendo o amor o que é não existe pecado algum.. só crescimento interior.

    Invista no sorriso que acolhe, nas palavras tracejadas de doçuras que afagam. Despista o mau humor, coloque a pressa para dormir. Se atente ao que te faz bem. Abrace as borboletas, dance com a calmaria que renova sua coragem. Faça companhia para ousadia de fazer o mundo de sonhos acontecer.
    Se faça feliz....
    Um abraço apertadinho. ☺☺

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  6. Toda essa poesia é tão linda que dói uma dor de molhar os olhos.
    Abraço

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  7. Caramba... que texto lindo, lindo mesmo.

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  8. Ai, Jaya, quero guardar esse texto num potinho viu? Já comecei a sorrir aqui: "Enquanto converso sobre os livros que tenho lido, gasto a poesia que sinto inteira em você."

    Amo ler os seus textos e, por isso, só te agradeço! <3

    Preciosidade!

    Um beijo,

    Gabi

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