Assim, da janela, olhando a vida passar. Observando os gestos, as pessoas, as pedras na rua, tentando encontrar pedaços de sonhos. O sorriso que ninguém consegue ler. A tempestade presa em olhos castanhos. Mas tinha estrela também. Aquela estrela ali, quase ofuscando. Isso me devolve serenidade, esse saber que em todo céu mora uma estrela. De vez em quando ela resolve descer, é quando brota paixão.
Caiu uma estrela na minha janela numa noite que chovia. Meu coração havia deixado de iluminar também, alternava leves piscadelas. Então a estrela me contou que veio reacendê-lo. Não entendi muita coisa. Só que ela me tomou pela mão e me levou até sua nuvem. Tão bom voar. Tão bom luz. A nuvem era macia e eu podia morar ali para sempre. De lá de cima, aqui embaixo parece nada. Mas uma coisa me chamou a atenção: estrelas. Não me chame de louca, mas havia estrelas aqui, aqui: nesse chão, no meu, no teu.
Não foi preciso muito para que minha guia pelo céu explicasse tudo: vocês de lá, enxergam nosso brilho. Nós dormimos durante todo o dia esperando nosso tempo de fazer o céu mais enfeitado. Daqui de cima, nos surpreendemos a cada movimento que vocês dão. Me refiro aos movimentos em fantasia. Aqueles onde vocês parecem pisar em nuvens, como chama? Paixão? Isso, paixão. Todos esses pontos luminosos que você enxerga daqui, ao olhar pra baixo, são corações em par. Alguns brilham distantes, percebe? As cores identificam os pares. Nós, estrelas, temos também a mania de, ao notarmos as afinações entre essas melodias esparsas, lançar um pó de encanto impregnado de pureza e angelitude. E assim sendo, vocês se tornam nossas estrelas. Os papéis se invertem - chão e céu se misturam.
Desci outra vez. Pousar em casa tinha um perfume doce. Ser o céu das estrelas é fazer da noite um sonho. Desejei que pulsasse em mim um luzir sereno e infinito. Ela me explicou o coração, mas eu já nem lembro de quase nada. Percebo quando ele pede asas. Quando sonha uma voz. Piso em nuvens, mas o vôo é incerto. É o mundo aborrecido, sem deixar molhar.
Lembra quando teu amor choveu em mim?