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Durma, medo meu.


Já havia temperado meus sonhos com teus melhores sorrisos. Era um gosto bom. Mas a vontade derreteu-se na chuva. A vontade poderia ter sido amor. A chuva? Qualquer coisa que dançava em ritmo de saudades. Me fazia pensar nesse vento de toda hora, que chega sussurrando histórias e espalhando afeições. Aí depois, quando bem entende, leva tudo embora. Só não leva embora o medo. Esse medo que faz da coragem um eclipse.

Tudo ficou escuro do lado de cá. Me perco nesse deserto de nós dois. Escutam-se rumores de um final que ainda não quer se convencer. As imagens ficam desbotadas e eu deixo as palavras repetidas se perderem, soando tão ocas. Repito você. Não tem mais ninguém para preencher esse vão que minhas mãos faziam, como se através desse gesto desatasse todos os meus nós.

Me contaram que um mundo teu existe. E existe dentro, em mim. O medo chega a quase adormecer com essa noção. Meus sentidos se desmontam. Minha alma amanhece essa noite morena, teus olhares pousam em meus movimentos, e nem se sabe mais onde mora o vazio dos abraços. Me embalo ao teu som, entre esse cafuné delicado em meio aos meus cachos tão inconstantes quanto minhas palavras. Seus dedos parecem beijar meus cabelos, enquanto eu só sei pensar em enfeitar você. E o medo ali, observando através dos olhos meus.

Minha confusão descabida chega a achar que o medo não vence. Não estamos sós. Parece que assim, juntinhos, você cabendo em meu espaço e eu me encaixando no teu, dublaríamos paixões do nosso próprio filme. Fico pensando em te convidar a voar perdido comigo.

Enquanto isso, mantenho esse campo de idéias inefáveis, onde estrelas e vagalumes se confundem, ali, num cantinho escondido, que visito desacordada. Sabe? É como naquelas fábulas que ainda não escreveram. Não escreveram porque ainda não vivemos, e o livro é nosso.

Queria dizer chega para tanta suposição de céu. Deixar o medo eternizar seu sono. Já não tem graça enxergar o amor como uma miragem.

Comentários

  1. "Já não tem graça enxergar o amor como uma miragem."
    Eu que o diga, minha querida! Esse medo é um saco, não?!
    Beijos!

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  2. Jaya,

    Medo é um sentimento tão conhecido meu. Tão meu camarada, rs. Ler seu texto me trouxe à memória algumas coisas que desisti por medo. E vivi, então, com a nostalgia de não tê-las feito. Vivi de brisa, entre folhas e cânticos e o medo, enfim, dormiu. Gostaria que a forma de ele dormir fosse outra. Gostaria que, enfrentado de peito aberto, ele dormisse. Mas às vezes ele vence e isso me mata.

    Eu poderia ter escrito esse texto. Fala tanto de mim. E esse é um assunto que tem me enchido a paciência. Há alguns dias, algo em mim clamava para que um texto com essa mensagem saísse. Agora estou satisfeito porque o leio aqui com o melhor tom da poesia, com uma sensibilidade que, nem de longe, eu alcançaria.

    Beijo pra você, poetisa.

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  3. "Queria dizer chega para tanta suposição de céu. Deixar o medo eternizar seu sono. Já não tem graça enxergar o amor como uma miragem."

    QUERIDA...
    TALVEZ O MEDO DO AMOR SEJA O ÚNICO MEDO QUE NÃO DORME NUNCA....

    BJUXXXX

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  4. e eu adoroooooooooo a música durma medo meuuuuuuuuuuuu

    é tão linda.

    e sobre o post, dá a impressão que tu tá falando de mim kkkkkkkkkkkk

    =*

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  5. Sabe o que mais me assustou? Parece que de alguma forma você me escreveu...
    Não é esse mesmo medo, mas é quase ele... E eu não gosto desse medo, apesar de parecer que, no final das contas, é ele quem sempre está comigo...
    Eu tenho tentado, com muito esforço, colocar esse medo pra dormir também. Só não consigo pois não posso sozinha, não depende só de mim.

    Não importa, ainda tenho esperanças...


    Beijos


    P.S.: É demais chegar em casa e ter um texto seu pra ler!!!!!!!!

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  6. olá, amiga,

    as vezes o medo vence,
    too tentando ser o mais descarado possivel, pra poder vence-los de alguma forma.
    acho q consigo um dia,

    bjosss

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  7. Jaya, muito lindo teu blog, que alegria.. Salve!

    Jorge

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  8. Tomara que tua miragem se transforme em um lindo oásis...

    Voltando pra deixar mais rastros e viajar nas tuas letras...

    Beijo e mais beijos...

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  9. Mas tem hora que é assim mesmo: o amor parece só uma miragem, no deserto onde nos encontramos.
    Bjoooosssssssss!!!!

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  10. Jaya,

    Que maravilha, menina!
    Fiquei arrepiada. É uma miragem de amor. Surreal!

    Já perguntaram aqui nos comentários e eu quero saber também, ouves Teatro Mágico???

    Eu amo!
    Então somos raras....hahahaha

    Bate aqui /ó!!!!!

    Beijo

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  11. É incrivel como viajo cada vez que passo por aqui!
    So que dessa vez fiquei um pouco assuatda, me achei em grande parte do teu texto!
    "Queria dizer chega para tanta suposição de céu. Deixar o medo eternizar seu sono. Já não tem graça enxergar o amor como uma miragem"
    Tbm queria viu...
    Beijos!!!

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  12. Ai que lindinha, e ainda por cima com título do Teatro Mágico, adoro essa música.

    Esse medo que insiste em nos perseguir, ele tem uma força surreal, enfraquece as pernas, emudece a voz. Mas ele foge às vezes, e a gente por alguns segundos consegue viver e realizar os sonhos. Pena que ele volta.

    Beijos minha doçura de gente.

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  13. Quando eu crescer, eu quero escrever igual a vc.

    "Me contaram que um mundo teu existe. E existe dentro, em mim. O medo chega a quase adormecer com essa noção. Meus sentidos se desmontam. Minha alma amanhece essa noite morena, teus olhares pousam em meus movimentos, e nem se sabe mais onde mora o vazio dos abraços."
    Era pra mim, de novo, não era? ;D

    Mas será possivel que só eu não conheço as músicas do Teatro Mágico??!?! ¬¬


    Beijo, hermana cheia de luz!

    PS: eu é que fiquei toda toda comteu comentário dessa vez =]]

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  14. o início me lembrou aquele filme 'cantando na chuva ou dançando na chuva' nao me lembro agora.

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  15. bom dia!
    gosto muito do seu blog!
    sou adm. do blog “o fogo anda comigo”(thefirewalkswithme.blogspot.com).
    o blog tem como ideal um SARAU AMPLIFICADO onde TODOS divulgam suas ideias e, o principal, poemas.
    gostaria de ser um parceiro seu!
    OBRIGADO!

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  16. O medo não existe, é apenas a falta de credibilidade junto com a insegurança. O amor vence tudo,
    mesmo sendo uma miragem.

    Beijo's Jaya!

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  17. Sabe Jaya, esse teu texto é maravilhoso.
    Melhor ainda é quando voce lê um texto que parece ter sido escriyo pra vocÊ...

    Me encaixei dentro dele.

    Beijo.

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  18. Sei que as pelavras têm muitas interpretações, como não poderia ser diferente tirei as minhas conclusões.
    Existem amores e pessoas tão únicas, que ao partirem parece que ainda podemos sentir seu abraço, seu toque, e mesmo que amando outra pessoa, não é a mesma coisa, fica um vazio sem razão, sem explicação, nenhuma palavra pode descrever isso. Sinto as vezes essa perda, como se algo tivesse sido arrancado de mim. Seu texto me faz lembrar coisas que deixo escondidas dentro de mim mesma, coisas que muitas vezes eu não deveria ignorar.

    Obs. O vento me faz ter também essa impressão de sempre nos arrancar a coragem e deixar o medo.



    Comentário meio grandinho né?rs


    beijooo

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  19. Passei pra te deixar um beijão, Jaya, mas volto, prometo, pra ler o texto inteirinho e abstrair com o que você escreve... porque eu sempre acabo devaneando e fantasiando no que leio. Sou uma sonhadora mesmo! rs

    Abraçãozão e bom domingo!

    Cheiro pra ti!

    'Té mais!

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  20. é assim... a brisa sempre anuncia os ventos da mudança...

    abraços, srta.

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  21. "Já não tem graça enxergar o amor como uma miragem."

    Ah, esse medo besta que possui insônia e me tira do sério!

    Um dia a gente sara!

    Sua sensibilidade me emociona sempre que passo por aqui!

    Beijão!

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  22. Nossa. Fantástico! o titulo "durma medo meu". a musica já é boa,mas combinou perfeitamente com seu texto. a linguagem,as figuras e imagens. mto bem! tá de parabéns!

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