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Jaya Magalhães

Faço promessas malucas
Tão curtas quanto um sonho bom...


[Faz parte do meu show - Cazuza/Renato Ladeira]

Brinco de construir amor nas horas vagas. Invento mantras e penso em tudo que seria se eu pudesse me apaixonar por você.

Se eu pudesse me apaixonar por você, você diria que queria muito ter escrito para uma menina com uma flor, pra mim, mesmo eu não tendo flor nenhuma. E quando eu subisse a escada rolante do shopping, você ligaria para o meu celular dizendo que me observava chegar tão purinha entre as marias-sem-vergonha e eu daria risada porque também estaria te vendo e pelo teu provável tom de ironia misturado ao meu sarcasmo.

Se eu pudesse me apaixonar por você, você seguraria minha mão enquanto meus cabelos brincavam no teu ombro, na hora daquele noticiário depois do almoço e perguntaria porque não pintei as unhas de vermelho essa semana e diria dos meus dedos compridos e eu te contaria que minhas mãos são iguaizinhas às de meu pai e que eu acho isso o máximo.

Se eu pudesse me apaixonar por você, eu sorriria. E você diria que eu sorrio sempre e eu te contaria que eu sou feliz e você me perguntaria porque e eu falaria que é porque eu choro. Você ia me olhar com uns olhos inquisitivos e eu te faria entender que quando a tristeza entra em mim, ela só sabe sair eficaz em lágrimas. Daí então, quando você me visse chovendo, bicuda, iria me entregar um afago sem jeito porque você provavelmente não sabe o que fazer quando vê uma mulher chorar e ia me ver sorrir, horas depois. Porque a água só escorre pra fazer flor em semente de sorriso.

Se eu pudesse me apaixonar por você, talvez você brigasse comigo pela mania exagerada que tenho de ouvir Los Hermanos, mas ia ficar todo prosa quando eu cantasse que até quem me vê lendo o jornal na fila do pão sabe que eu te encontrei. E talvez você implicasse também com minha vontade de sempre querer viajar pra praia em janeiro, porque moro da serra, mas eu cederia se você chegasse com um Drummond pra me dar de presente. Se bem que eu te diria que nós dois caberíamos fácil numa rede à beira-mar misturando nossas vozes na leitura de um poema e a gente teria certeza de que todos as poesias do mundo foram escritas sobre nós e você ia querer sempre ir pra praia, também, quando ouvisse Cazuza cantar sobre querer a sorte de um amor tranquilo com sabor de fruta mordida.

Se eu pudesse me apaixonar por você, eu ficaria escrevendo textos como esse igual agora, durante uma palestra sobre união estável/ concubinato/ direitos da amante. E as pessoas ao lado me achariam muito concentrada e estudiosa anotando tudo que o moço fala lá na frente, sem nem entender meus suspiros silenciosos.

Se eu pudesse me apaixonar por você, eu diria ainda que adoro quando você surge assim, escorrendo pelos meus dedos e eu os levo à boca distraidamente, descobrindo que teu gosto é doce e deixaria tudo o que estava fazendo pra te encontrar. Eu te ligaria dizendo meu bem, parece que vai chover e começaria a chover, de fato e você viria pra rua e me encontraria no meio do asfalto molhado, com meu vestido branco, toda despenteada e ficaria encantado lembrando de Jorge Ben, enquanto me dizia que maravilha, que coisa linda que é o meu amor. Eu sentiria frio e você me abraçaria e a gente no meio da rua do mundo no meio da chuva, a girar. Que maravilha.

Se eu pudesse me apaixonar por você, eu ia beijar teu machucado e dizer que ia sarar logo e você ia ter medo de passar mertiolate, mesmo eu explicando que não arde mais e você só se renderia quando eu me oferecesse pra soprar, te fazendo rir do meu bico. E você ia me abraçar e eu ia virar brilho, e eu esperaria também que você me trouxesse um frutare de limão sempre que eu estivesse gripada, porque só assim eu melhoro. E me levasse à sorveteria todos os domingos à tarde pra tomar um sorvete de cajá.

Se eu pudesse me apaixonar por você e você ficasse romântico demais, eu ia te chamar de mulherzinha e ia me apaixonar por você uma vez a cada dia. Ou então, toda hora que eu te olhasse. E em alguns dias eu falaria pra caramba, em outros ficaria muda e isso não teria nada a ver com você. Talvez eu fugisse de casa, também, pra ficar sozinha, mas eu nunca ia demorar muito.

Se eu pudesse me apaixonar por você, você finalmente entenderia minhas expressões faciais que são quase tatuagens daquilo que meu lado de dentro sente e riria muito das minhas caras e bocas que saem tresloucadamente bem humoradas e a gente ia caminhar de mãos dadas carregando a mesma coisa sem nome nos olhos e ninguém ia entender nada e a gente também não.

Se eu pudesse me apaixonar por você, você sentiria ciúmes toda vez que eu te contasse que dormi com Chico. Eu diria que você não deve sentir ciúmes de Chico e você se irritaria e eu te contaria que eu durmo com Chico pensando em você, seu bobo e daí então você ia querer me beliscar, me chamando de louca. Seríamos loucos juntos.

Se eu pudesse me apaixonar por você, você entenderia porque choro em filmes, porque faço escolhas que quase ninguém entende e porque no meio de algo sério eu sempre digo que preciso sair para comprar chocolates e é uma precisão muito séria. E entenderia porque eu te chamaria de besta quando você me contasse piadas e eu selaria teus lábios com um beijo logo depois e a gente adormeceria no sofá da sala e acordaria feliz pela soneca e irritados por não poder prolongar pois tínhamos um compromisso urgente.

Se eu pudesse me apaixonar por você, de noite eu apagaria todas as luzes do quarto e a gente ia começar a conversar no escuro e não ia entender nada quando tudo começasse a acender dentro da gente e eu ia desconfiar se a gente não era estrela. E você acordaria abraçado a mim no dia seguinte e levantaríamos juntos e você me observaria escovar os dentes com a mão esquerda na cintura, me veria dizer bom dia pro meu reflexo e amarrar os cabelos. E depois que eu lavasse o rosto, a gente ia dançar no corredor, de pijamas e a gente lembraria que era domingo e voltaria pra cama e ficaria o dia inteiro nela, ignorando quando batessem à porta e tirando o telefone da tomada. E a gente se deitaria de novo, se olharia sem piscar e faria silêncio e então entenderíamos tudo.

Tudo isso se eu pudesse me apaixonar por você. Se eu pudesse. E só não posso, por um motivo isolado: eu já te amo.
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Me explica, que às vezes tenho medo.
Deixo de ter, como agora,
quando o vento cessa e o sol volta a bater nos verdes.
Mesmo sem compreender, quero continuar aqui
onde está constantemente amanhecendo.
[Caio F.]

Eu queria não pensar tanto. Não sonhar, tanto. Queria poder quebrar as fantasias e pisar firme no chão, com os dois pés. Mas minhas asas não deixam. Elas me levam para um ponto tão, tão alto, que fica difícil não te notar. O céu é o mesmo. O céu é o mesmo. Um mantra, pra não deixar doer. Não quero doer. Não vou.

Teve um dia onde meu coração foi cenário um tanto shakesperiano. Atos assassinos existiram, dramatizados, e muita coisa morreu em mim. Nesse mesmo dia, apareceu você. Uma intensidade demente, alguma coisa sendo sem ser, teus acordes, músicas deles, lágrimas minhas e silêncio. Madrugada que me amanheceu. Um amanhã, seu.

Minha alma sempre teve qualquer coisa de viola, sem canção feita, ensaiada. E todo encontro de notas faz ecoar meu coração desafinado. Meu coração. Por que chamar de meu algo que é tão preenchido pelos outros? Meu coração tem tantatantatanta coisa alheia que já nem cabe mais em mim. Um acúmulo só bom. Agora, cata aqui, ó: toma esse pedaço, é teu. Arranca, cola em si, joga fora, mas não me deixa sentir sozinha. Sozinha é muita coisa.

Eu já sorrio sem medo de você ler teu nome em meus lábios. Esqueço os olhos no azul e assovio impulsos. Não procuro definir nada. Eu entendo tudo como aquela sensação de primeira vez, de coisa única, de inefabilidade. Mas sempre surge uma relutância exorbitante que nunca acalma. Uma certeza triste e palavras grandes sendo usadas. Meu lirismo virando incenso, queimando pelo quarto, chegando até você, voltando pra mim e aquele cheiro indefinido daquilo que não se nomeia. Se sente. Eu sinto.

Nada concreto, então? Eu escolhi ser. Mentira, droga. Quis fugir, ignorando saber que já estava lá dentro. Dentro disso. Talvez tenha algum sentido, talvez não. É um entregar de mãos, um receio, um desapego, uma sede. Vontades, cara. Luzes apagadas, a lua sorrindo linda, você sendo estrela em qualquer ponto. Uns olhos que clareiam e ficam invisíveis por abrigarem uma constelação ofuscante, e um suspiro, ao travesseiro, por te saber ouvindo meu sussurro no teu silêncio: boa noite, meu bem!

Eu me comovo com tudo o que não acontece, desejo coisas muito belas e adoro quando você entende o que não digo. Minha estrutura te suporta com um ou outro encanto repartido e brotam flores amarelas de uma poesia que eu não sei fazer. Venta um pó de afeto, vê? Farelos de mim, propondo felicidade. As coisas tão mais lindas.

Delírios lúcidos. Absurdos. Chão, chão. E tô voando, outra vez. Acumulando silêncios. Musicando-os. Muita energia querendo saltar, atingir, latejar. Razão, sem-razão. Sem estrada. Esse é o caminho que tem mais coração, todavia. Então, vem cá, aperta teus dedos em minhas mãos e eu não solto. Uma certeza, e só. Um jeito abafado de gostar. Você, diferente de tudo o que eu já conheci. Espalhei do jeito mais bagunçado, tres-lou-ca-da-men-te. Sem matéria. Nada existe e tudo é mágica. Não, não cabemos em teamos e é só minha parte dentro em você, ou tua parte dentro em mim, a responsável por não nos responsabilizarmos.

Ah, meu doce, realmente acho tudo isso muito bonito. Ou talvez eu só queira escrever, pra deixar arder as letras de um sentimento inventado, novamente. Não sei, não sei. Enfim. [Sem fim]. Já tá amanhecendo de novo.
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"Em um pulso, o sol; no outro, a lua: as mãos são feitas de céu." [Kerouac, J.]

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