E quando você me envolver
nos seus braços serenos
eu vou me render.
[Ligia - Tom Jobim]
Porque nos encontraríamos, pedi que a cidade se acendesse. Você sempre com esse copo na mão e toda essa fumaça misturada ao tom de quem carrega o mundo consigo. E chora no escuro enquanto eu te observo, sem entender, sem te entender. Coisa de gente como a gente, que nasceu para sentir demais. Ser demais. Ser excesso. Que se derrama e deixa tudo escorrer para a vida. Deixemos.
É domingo e nossa mesa reservada de sempre já parece guardar as histórias de cada sorriso que escapou por entre nossos lábios. O clima é outro, mas os ecos de suspiros atrasados me lembram o dia em que quis te tomar emprestado para mim, aqui. Sem nem marcar devolução. Te tomar do mundo e te dever a ele. Culpa do teu violão e das palavras que me provocavam. Até então eu não sabia do bom de ser folha em branco para poesias dessas que costuram cicatrizes, e que, enquanto fechavam feridas, guardaram sopros da tua essência. Você se perdeu em mim e eu me encontrei, aí.
Hoje eu chego enquanto você ensaia ao piano. Toca de olhos fechados, sem cantarolar com tua vozinha de sono. Ao me ver chegar, faz silêncio e vem ao meu encontro. Não entendo o vermelho do lugar e não gosto do silêncio que você sempre teima em escutar detalhadamente. É como se mesmo envolta em meu vestido verde, toda a nudez do amor fosse latente aos teus ouvidos. E você me observa tão de perto, como se tuas pálpebras piscassem em minha retina. Engulo flores e beijo a harmonia em tua boca.
Algumas coisas simplesmente teimam em viver, eu penso. E o bar ainda vazio parece fazer de tudo um filme. Porque sempre gostamos de bossa. Compramos ações na bolsa de amores, pagamos para ver e o mercado sabe continuar em alta. E o silêncio de agora? Eu, estranhamente gelada. Lembro de uma noite, das nossas primeiras, onde você disse que um copo de uma bebida quente faria evaporar minhas dores. Estranhamente, hoje é você quem me lateja.
As pessoas começam a chegar, cumprimentam você, a mim, as mesas são preenchidas, as garrafas desfilam, as emoções destilam, você vai para o palco. De lá, me pega no colo com os olhos, mania da qual não sabe se desfazer. Desvio minha atenção para a taça, como se o vinho me dissesse verdades improváveis. Degusto. Tem teu gosto. Teu piano. ViniciusToquinhoTomChico. Todas as mulheres. Os outros te aplaudem em meio à minha inércia. Queima uma estrela em minha mão.
Esses quadros nas paredes com fotografias de músicos, essas luzes coloridas, esse cheiro louco de cigarro: tudo parece ser tocado por ternurinhas frágeis. Mentirinhas apaixonadas que enfeitam as primeiras declarações incertas. E o dia virando, o garçom já emborcado sobre o balcão, você e o piano sendo o sambinha feito de uma nota só e as cinzas das horas querendo transformar em pó minha vontade de estar.
Sentir às vezes não cabe. Nós, às vezes achamos bonito caber no amar ou numa palavra qualquer que dê ideia de certeza ao nosso vínculo de morada em. Tudo é sempre mais. E enquanto não sou do presente, você vem caminhando até mim. Som de flauta, cavaquinho e azul. As portas se fecham e nós dois, lá fora, encerramos um abraço-soneto que recebe o setembro primaveril em nossos laços. Um nó.
Do outro lado da rua, o mar todo grávido de uma lua cheia. Você, me tendo tão mais perto, despeja com vozinha de sono, doce:
- Esqueci no piano as bobagens de amor que eu iria dizer...
E você não sabe, meu bem, que todo o meu medo mora em teus olhos.
você me arrebenta o quadril, dá nó na garganta, me azucrina uma noite inteira.. me grita AYDA como ninguém.
ResponderExcluirengasga com biss e eu peço biss de você.. que seja sempre.
que sejam doce tuas palavras
que possa eu estar sempre dali, de longe, ouvindo teu sussurro..
que possa eu ver e ter essa tua respiração ofegante, pedinte.
você é hiperbole na minha vida menina. ahhh parei :*
eu sempre fico sem palavras diante das tuas...
ResponderExcluirele tocou Luiza? rs!
querida, vá la no blog.
bjos!
Ah, os olhos, sempre os olhos?
ResponderExcluirHá um quê neles que despertam esse medo. Por quê? Pra quê? Prisão, a minha.
Beijo
:*
é muito dificil comentar nos teus textos!
ResponderExcluirsão sempre bonitos e me deixam me sentindo idiota por não saber o que falar :/
"Coisa de gente como a gente, que nasceu para sentir demais.Ser demais. Ser execesso. Que se derrama e deixa tudo escorrer para a vida. Deixemos."
ResponderExcluirImpressionante como me identifico e me emociono com tudo que vocÊ escreve!
Parabéns!
medo que mora nos olhos?
ResponderExcluirpequena, eu me perdi num par castanho-feliz-do-menino-moreno e nunca mais consegui sair.
detalhe: esses olhos nem me olham.
teus escritos são suavemente adoráveis!
tebeijobeibe
O texto de uma leveza muito grande, a leitura fluí com naturalidade.
ResponderExcluirCompramos ações na bolsa dos amores, pagamos pra ver, e o mercado sabe ficar em alta.. Muito lindo...
E é silêncio para você, por que ele escuta o tom da batida dos seus corações tocando a mesma nota, em uma perfeita sincronia..
Beijoooos Jaya
Nâo poderia ficar em silêcio diante de tanta beleza,onde meu grito se faz presente na sutileza da tuas palavras.
ResponderExcluirTe desgrudo da retina pro teu medo passar..
Beijos moça.
O que dizer? Nem sei. Bonito é pouco!...
ResponderExcluirAh, Senhor, um dia tu ainda me fazes ter um ataque. Ataque de doçura, de sensibilidade, de amor.
ResponderExcluirAmores ao som de "ViniciusToquinhoTomChico" tendem a ser os mais intensos e arrebatadores. Aproveita, porque ainda estou em busca de outro assim...
Beijos, meu doce!
Oxe, onde você está então, rapaz? Perto de Itabuna? :o
ResponderExcluirhaha é baiana também, ou mais uma que parou aqui por peça do destino? rs
Lindo demais esse texto. A-M-E-I o final :)
beeeijo :)
- Equeci no piano as bobagens de amor que eu iria dizer... 2
ResponderExcluirAintenção era essa: não dizer e dizer.
ResponderExcluir:)
¥
sei não, acho que você respira poesia. mesmo prosa.
ResponderExcluirPor 5 minutos eu estive nesse salão, ouvindo o piano e vendo a tua inércia de tanto amor. Isso foi tão bossa nova, tão Vinícius também. Eu gostei muito.
ResponderExcluirVero, Jaya...
ResponderExcluir"Sentir às vezes não cabe".
Eu seria capaz de escrever uma poesia só com as sensações que experimentei ao ler esse texto.
Vc me toca.
O Beijo, linda!
Não canso de dizer que teus textos exercem sobre mim uma fascinação e um sentir que não sei definir. Realmente só sinto e amo demais.
ResponderExcluirÉ jeito, ritmo, amor, tudo junto formando um cenário que é impossível não estar alí, fazendo parte. Me senti em uma das mesas, expectadora atenta.
Lindo!
Beijos, moça!
Sentir demais. Sempre me condeno por isso x_x
ResponderExcluir"Você se perdeu em mim, e eu me encontrei, aí" que lindo, isso! :)
Ah, Jaya.. já tinha vindo aqui antes, li sobre a Dulce. Me identifiquei. Acho que tenho uma Dulce em minha vida, o nome dela á Luana (esse não é o nome dela de verdade, não posso revelar, sabe rs) mas, adoro vir aqui. *-*
ResponderExcluirdesculpa, não pude deixar de ler nos comentários da Má, você mora perto de itabuna? O: rs
A porta está aberta, moça. volte sempre, beijos :*
Jayazinha.
ResponderExcluirQue perfeito! Que conexão!
Explico a parte da "conexão".
Tenho uma história que tem um capítulo com uma parte que é parecida com o seu texto.
"Hoje eu chego enquanto você ensaia ao piano. Toca de olhos fechados, sem cantarolar com tua vozinha de sono. Ao me ver chegar, faz silêncio, e vem ao meu encontro."
Quase chorei aqui de emoção! Eu não usei as mesmas palavras no capítulo.
Eu amei o texto! Lindo!
Beijos pra ti, girassol!
P.S.:Tem postagem nova, e obrigada por passar lá e pedir por novidades. Você é um doce!
Me senti lá. Ao lado dela. Ouvindo-o tocar. E esperando ansiosamente que ele voltasse para ela. E a ansia dele lhe falar algo. E o cheiro do cigarro. O barulho das conversar.
ResponderExcluirMoça, eu acho que pensas que falo brincando, mas não falo, quando digo que não gosto quando acabo de ler tuas coisas. Escreves de um jeito que sempre quero mais. Ficaria a noite inteira lendo e lendo... É uma doçura e encanto tão grande!!!!!
Beijão pra tu
Imagina o impacto de seu texto na vida de alguém que é músico como eu baby!
ResponderExcluirGuardadas as devidas proporções(na atual conjuntura um Morrissey e um Placebo me caem melhor que um Tom.
Belissimo texto baby, parabéns!
Junkie Careta convida os amigos para uma dose de vinho e outra de cicuta no Spleen Rosa Chumbo
Grande bjo
"Coisa de gente como a gente, que nasceu para sentir demais. Ser demais. Ser excesso. Que se derrama e deixa tudo escorrer para a vida. Deixemos." - Romântico, Ultra-Romântico, eu diria... e AMO isso!!!
ResponderExcluirEstava com saudades de visitar aqui e me trasladar para o universo de maravilhosos excessos de sentimento das suas letras. =)
PS: "Lígia" é linda!!!
Beijaya!!!
PS: Comentário (atrasado) no post da Dulce, que eu acabei de ler e, pra variar, AMEI!!!
ResponderExcluirMeu, começa a levar a sério essa história de escrever o livro da Dulce!!! Sério, já está virando uma necessidade minha!!!
esse foi chega ao absurdo.
ResponderExcluirQuestão atormentadora: Jaya, my dear, como ignorante digital que sou, gostaria de saber qual recurso utilizaste para impedir cópia (na prática, não só juridicamente falando) no seu blog. Bem prático, do tipo, o mouse não consegue dar ctrl+c ctrl+v. Como?
ResponderExcluirPassei por coisas parecidas ao relatado em seu texto sobre o plágio... ¬¬'
Definitivamente, é muito bom ter amigas legais (não pude evitar o trocadilho... hehehehe)
Beijaya!!!
=*
...lindo, jaya!
ResponderExcluirbeijo meu.
Esse medo nos olhos que acompanha o amor no peito. E o sentir, que não cabe no amar?
ResponderExcluirSincronizou com o que eu senti e não palavreei.
Beijos, moça bonita.
TCHARAMMMMMMMMMMMM
ResponderExcluireeeeuuu volteeeeeeeeeeei! kkkkkkkk
meninaaaaaaaa, que saudadesssssss
saudadeeeeeeees
saudadeeeesssssssssss
tantassssss
Porque toda vez que eu desisto de acreditar, eu venho te ler e me convenço de que vale a pena tentar mais uma vez? Assim, só pra ter certeza. Só pra tranquilizar a consciência. Só porque dá-próxima-vai-dar-certo.
ResponderExcluirE eu volto a acreditar que essas coisas lindas que você escreve podem acontecer, sim senhora. Porque não?
Lembro do grande poeta Zina: "Topo, porque não? Vamu cair pra dentro!" Então, vamo né? Em busca de embalos tão doces quanto esses ai.
Beeeeeeeeeeeeeeejo lotado quase transbordando de saudades.
=)
a gente se perde em olhares que são nossos porque nos vemos neles. estamos lá, e que queremos estar.
ResponderExcluirtenho uma mania incrível de me perder em olhares...
beijos rânei.
"Coisa de gente como a gente, que nasceu pra sentir demais. Ser demais. Ser excesso."
ResponderExcluirE a ferida que nunca cicatriza...
O que eu posso dizer diante de um texto maravilhoso como esse, não tenho nem o que dizer.
Beeijos!
Você é perfeita. Essas metáforas que vão nos embalando...
ResponderExcluirsuas palavras vão se misturando e quando eu vejo já estou dentro de tudo. quando percebi, já me via com uma taça de vinho na mão, degustando esses sabores da vida.
vc melhora meu dia, Jaya!
um beijo!!
querida, vocÊ realmente é lírica.
ResponderExcluirconsegue ser doce sem ser melada.
adorei o texto, quase chorei, me vendo em alguns pedaços
beijos e boa semana
MM.
Uaaaau, Jaya!
ResponderExcluirQue texto!!
Estou como muitos: sem palavras suficientes para comentar dizer.
MAs... Desejo que no piano dele toque apenas músicas bonitas (que sejam de uma só nota ou sete, mas que toque músicias bonitas). E desejo ainda que com o vinho que compartilharem na mesma mesa vocês embriagem-se um do outro.
E que o medo seja tempero e que as palavras esquecidas (no piano, que seja) nem sempre precisam ser lembradas. Atitudes falam mais do que palavras. O ato de te ter mais perto, em frente ao mar grávido da lua cheia, parece-me uma visão dos céus!
P.S.: Dá uma passadinha lá no meu blog depois. Tem um presentinho com carinho. É um Meme bem interessante. Beijo!
É chato isso.
ResponderExcluirÉ chato ler você tão forte
É chato tentar escrever depois disso tudo
É chato sentir tanto, é chato se calar...
Vou fazer greve de silêncio, nunca de ti...
Sim, deixemos tudo escorrer para a vida...
ResponderExcluirBjoooooooooo!!!!!!!!!
Ai ai... sempre viajo nas tuas palavras...
ResponderExcluirBeijo e mais beijos...
você não sabe, meu bem, que essa música é a minha preferida dele.
ResponderExcluirai jaya, como faço? estou respirando tanto, e tanto ar, que não consigo sentar aqui pra ler essas coisas lindas que você insiste (graças a deus) em escrever.
e agora quando paro, ponho tudo no lugar, e entro no seu blog, me sinto mal porque esse texto é digno de comentário imediato, sabe? é tão lindo.
bom, mas o que importa é mandar notícias, e cá estou, mandando a notícia que amei esse último. a bolsa de amores me tirou suspiros. que metáfora linda...
bom, não pense que é descaso (pelamordedeus, longedemim), essa minha ausência, é só muita vida. e passa. mas por enqto tenho certeza que você entende.
e sabe o que? poderia ficar escrevendo aqui mais o resto do dia, mas como você também tem seus compromissos, o que eu prometo é ser mais presente.
beijos e mais beijos
geo
Hoje eu quero um pouco disso ai.sem mais.
ResponderExcluirFlores.
já creditei, amoraa.
ResponderExcluireu nem sabia de quem era a frase. :D
obrigada pelo toque
bj bj bonitaa :**
Ai Jaya, q gostoso de se ler..
ResponderExcluirviagem total nas tuas palavras..
Lindo lindo...
Beijo grnade
[Desculpa, postei com outra conta... rsr..apaga o anterior pra mim? :D beijo!]