Dá-me o direito
de dizer coisas sem sentido
de não ter que ser perfeito
pretérito, sujeito, artigo definido
de me apaixonar todo dia.
[Alma nua - Vander Lee]
de dizer coisas sem sentido
de não ter que ser perfeito
pretérito, sujeito, artigo definido
de me apaixonar todo dia.
[Alma nua - Vander Lee]
No início eu não entendia muito bem. As ruas estreitas, o cinza, as pessoas, a minha chegada, a incoerência de tudo. Uma proximidade da solidão e da loucura. A cidade nova, tão antiga, fazia desaparecer aos pouquinhos toda aquela outra cidade, ainda tão minha. Mais até do que a que voltou a me pertencer. Achei normal quando João Gilberto soprou bem de levinho nos meus ouvidos, ao atravessar a rua no sol das doze horas. É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi.
Não é que hoje eu entenda alguma coisa, não. É questão de ter as percepções desviadas, de sentir alguns braços me atravessando as avenidas, de não precisar de um motivo. Hoje eu deito no chão da sala e acompanho os barulhinhos que vêm de lá de fora. Tem um passarinho que entra pela janela todos os dias, miudinho. Basta que eu pouse meus olhos nele para que saia voando pelo mesmo caminho por onde entrou, dessa vez levando o eco das minhas risadas de moça boba para soltá-los de lá de cima, com a pura intenção de contaminar qualquer lábio costurado.
Vou caminhando por onde acredito, hoje. Tenho feito as coisas do jeito que acho que ficam mais leves, mais clarinhas, mais fáceis de carregar. Ando sempre bem. A verdade é que nessa procura de me fazer, encontrei retalhos de coisas que doem. Doem mas não precisam trazer aquele gosto de água e sal, na boca. Guardo no bolso, jogo para cima, vou tomar um sorvete. Quando você não se prende, vai aprendendo de um jeito muito manso a voar novamente. Um e outro arranhão nos joelhos, pequenas quedas, mas nada disso importa depois que se prova um pouquinho de céu.
Eu tenho tanta fé em tudo, agora. Tenho gostado tanto de todo mundo, de mim, dessas repetições. Me assustei, então, ao perceber que é tudo uma questão de escolha. E o bom do susto é que a gargalhada sempre demora mais.
Hoje o teto lá fora é azulzinho. Logo ali, existe alguém que me faz cócegas. Alguém que me faz olhar ao redor, procurando-o, sempre que chego. E ele me faz levantar os olhos quando pronuncia meu nome, me transformando num girassol desajeitado, acompanhando-o a cada movimento. São vários pontinhos que eu vou ligando com essa caneta sem tinta, em meio à incerteza de rabiscá-lo em minha tela. É tão bom que eu sinta, por sentir, porque é preciso sentir.
Então eu procuro uns potinhos de tinta para borrar minhas mãos, porque nem sempre as palavras decifram o que o coração batuca. E me aproximo assim, de perto, dou um beijinho em seu rosto e deixo escrito uma história. Meus lábios, pincéis travessos.
É a vida resolvendo fazer carinho. E eu não quero entender nada.
Não é que hoje eu entenda alguma coisa, não. É questão de ter as percepções desviadas, de sentir alguns braços me atravessando as avenidas, de não precisar de um motivo. Hoje eu deito no chão da sala e acompanho os barulhinhos que vêm de lá de fora. Tem um passarinho que entra pela janela todos os dias, miudinho. Basta que eu pouse meus olhos nele para que saia voando pelo mesmo caminho por onde entrou, dessa vez levando o eco das minhas risadas de moça boba para soltá-los de lá de cima, com a pura intenção de contaminar qualquer lábio costurado.
Vou caminhando por onde acredito, hoje. Tenho feito as coisas do jeito que acho que ficam mais leves, mais clarinhas, mais fáceis de carregar. Ando sempre bem. A verdade é que nessa procura de me fazer, encontrei retalhos de coisas que doem. Doem mas não precisam trazer aquele gosto de água e sal, na boca. Guardo no bolso, jogo para cima, vou tomar um sorvete. Quando você não se prende, vai aprendendo de um jeito muito manso a voar novamente. Um e outro arranhão nos joelhos, pequenas quedas, mas nada disso importa depois que se prova um pouquinho de céu.
Eu tenho tanta fé em tudo, agora. Tenho gostado tanto de todo mundo, de mim, dessas repetições. Me assustei, então, ao perceber que é tudo uma questão de escolha. E o bom do susto é que a gargalhada sempre demora mais.
Hoje o teto lá fora é azulzinho. Logo ali, existe alguém que me faz cócegas. Alguém que me faz olhar ao redor, procurando-o, sempre que chego. E ele me faz levantar os olhos quando pronuncia meu nome, me transformando num girassol desajeitado, acompanhando-o a cada movimento. São vários pontinhos que eu vou ligando com essa caneta sem tinta, em meio à incerteza de rabiscá-lo em minha tela. É tão bom que eu sinta, por sentir, porque é preciso sentir.
Então eu procuro uns potinhos de tinta para borrar minhas mãos, porque nem sempre as palavras decifram o que o coração batuca. E me aproximo assim, de perto, dou um beijinho em seu rosto e deixo escrito uma história. Meus lábios, pincéis travessos.
É a vida resolvendo fazer carinho. E eu não quero entender nada.
Me encontrei em você hoje, Jaya.
ResponderExcluirConvivi com São Paulo durante os quatro anos de faculdade, e por vezes me sentia habitando um lugar que não era o meu, talvez eu ainda use João Gilberto com essa frase todas as vezes em que preciso retornar, mas depois de um tempo, a gente vai achando pedacinhos pra chamar de nosso, pra se reencontrar. Talvez eu ainda ache que o meu, não é ali e por isso tantas vezes reluto em retornar...
Mas assim como vcoê: "Tenho feito as coisas do jeito que ficam mais leves, mais clarinhas, mais fáceis de carregar..."
Linda sua poesia, mais uma vez linda.
Li o post passado e não tive tempo de comentar, mas o achei todo lindo, todo cheio de um amor fraterno que admiro tanto.
Um beijo bem grande!
Quando eu vi que você postou, pensei: "Hum, hoje vou me encantar."
ResponderExcluirAí venho e me deparo com palavras tão dóceis, tão suas, no melhor estilo-Jaya-de-ser, que me trazem uma conclusão: não há lugar para mim senão aqui, neste recanto de pura literatura.
Obrigado por me proporcionar sentimentos tão vivos. Você nem se esforça, né? hehehe
Coisa linda!
Beijos.
Sempre matérias muito bem escolhidas...adoro passar por aqui. Não só eu me assusto, mas as pessoas levantam os olhos para quem se abra, ora como um pássaro, ora como tatu.
ResponderExcluirbjs
Que lindo.
ResponderExcluirR.
Jaya,
ResponderExcluirLer a senhorita, quando a chuva cai em Juiz de Fora, é quase destino. Gosto da chuva caindo leve, como agora, porque me traz a imagem de frescor carinhoso de novos tempos. E essa concepção é também questão de escolha, como você bem disse.
Também tenho buscado um pouquinho de céu, ainda que pequenas quedas aconteçam. Acredito que é caminho natural do desenvolvimento das asas, voar por si - com companhia ou não.
Poesia, você.
Um beijo!
tava esperando tanto esse tipo por aqui, pra me sentir bem, p saber que tu estas bem tbm.
ResponderExcluirE é engraçado, cara, eu nunca me vi tão semelhante com essas palavras, eu falo daquela tranquilidade que só a loucura que é viver nos proporciona..
Flores.
Aqui é minha segunda casa. :) Quero saber como faz pra ser tão linda assim.
ResponderExcluirBeijo, Jaya Maria. E saudade.
"E o bom do susto é que a gargalhada sempre demora mais."
ResponderExcluirVoei e não percebi! A sua leveza nos leva, Jaya. Sempre volto melhor quando passo pelo teu céu.
Beijo grande.
Jaya citando João Gilberto contaminou o lábio costurado do paulista. =)
ResponderExcluirAcho que você já deve ter ouvido sobre aquela história de que quando se tem algum problema ou na vida, ao abrir a Bíblia se encontra, por mágica, a resposta ou um caminho a ser seguido, né? Então, foi mais ou menos isso que ocorreu quando finalmente consegui visitar essa choupana quentinha de letras de palha...
Nada como ler e suspirar...
Beijaya de leve, flutuantes como essa viagem lírica da vez!!!
PS: Como criador oficial do neologismo, decreto que "Beijaya" não tem plural... hehehe
ResponderExcluirHoje, eu só quero Sentir.
ResponderExcluirEste blog está aberto exclusivamente a leitores convidados
ResponderExcluirhttp://depoisdaprimeiradose.blogspot.com/
Parece que você não foi convidado para ler este blog. Se achar que trata-se de um engano, recomendamos que você entre em contato com o autor do blog e solicite um convite.
Você está conectado como h.zero.nove@gmail.com - Conecte-se com uma conta diferente
COMO ASSIM??? Magoei... rsrsrs
ResponderExcluirEi Jaya!
ResponderExcluirSeparei um selinho pra ti lá no meu blog!
Beijão
É a vida resolvendo fazer carinho.
ResponderExcluirPreciso avisá-la que quero carinho por aqui também.
Saudade, Jaya.
Beijo doce.
Quando não resistimos à alteridade, acabamos por tomar parte em seu banquete de signos. O que nos falta vira então fartura de possibilidades.
ResponderExcluirNão entender é tão rico! Faz-nos atentos às pistas.
quanto tempo, meu deus!
ResponderExcluirquanto tempo que eu não coloco minha bandeira por aqui. e engraçado que depois de tanto tempo, venho e vejo que estamos alinhadas. sim, eu também mudei e to assim, sentindo meio tudo isso.
e qual é o seu lugar agora, jaya? bom, pertencer um pouco a tua para pertencer a você mesma.
beijão querida,
saudades
SUA LINDA, te ler me deixa tão excitantemente leve... voei longe com seu texto. E ainda estou com vontade de voar... tanto que perdi o que queria dizer.
ResponderExcluir... que saudade dos seus escritos.
Um beijo procê.
Jayaaaa!!! Saudadesss Guria!
ResponderExcluirVoltei a postar minhas lamurias, rs.. Tinha parado pq o blog de cinema me dá mega trabalho. Mas to tentando levar os dois (e mais o papillonias!).
O papillonias é mais a Amanda que administra, mas eu cuido de lá tb =) Vou anotar sua sugestao, embora eu nao sei ainda se vou mostrar minha faceta no youtube, hehehehe
Obrigadissima pela visita la no Pullover. Li seu texto e bateu saudade imensa daqui! Nao sumo mais.
Bjao!
Dou outro beijinho em seu rosto com todo o carinho que possa caber...
ResponderExcluirBeijos, linda.
ola
ResponderExcluiradorei seu blog e estou te seguindo
me faça uma visita:
www.flordelotus29.blogspot.com
me siga. vou adorar que sejamos amigas
beijos
Não vamos entender...vamos apenas viver, sentir...amar, pq não?
ResponderExcluirquem sabe a gente dá a sorte de encontrar o amor, ali adianta...
beijo no coração
Logo hoje que eu tô me sentindo tão "minha casa não é minha e nem é meu este lugar" vem você e acaba comigo, Jaya.
ResponderExcluirMesmo depois do costume, volta e meia bate aquela solidão triste que dói demais. Cabe a nós fazer de tudo pra se sentir parte da nova vida, da nova casa.
Eu tô tentando.
um beijo, um cheiro!
Você fala de um mundo novo que ainda procura entender, como conseguiu se reorganizar e fazer escolhas "mais leves" como disse?
ResponderExcluirEu acredito que algumas vezes, temos que optar por escolhas mais difíceis, por serem as únicas coisas capazes de nos fazer crescer. Esta aí a sabedoria de viver.
Você fala também em "É tão bom que eu sinta, por sentir, porque é preciso sentir." Concordo, mas não está aí um indício de uma certa dependência do outro. Você acha que é possível "sentirmos sozinhos"?
Desculpa aí...perguntei bastante. Eu sou meio intrometido mesmo.
Abraços Jaya.
E a vida anda fazendo carinho aqui. E queria tanto, tanto, tanto vc mais perto. Fisicamente falando, sabe? Fofoca na cama num dia de domingo. Cafézim da tarde na minha casa com muito pão-de-queijo sóprocê!
ResponderExcluirA vida anda fazendo carinho. E eu só queria te contar cada detalhe!
Se cuida, tatuzinhaminha!
E vem logo!
Na verdade meu comentário é sobre o texto anterior eden. precisava falar, mesmo que de um texto tão pessoal, me senti parte dele. me emocionei. lágrimas nos olhos, lágrimas sinceras. lágrimas de quem lê e acha que é pra si. acho que você conseguiu traduzir que amor é esse que a gente sente com 'a melhor fonte com nosso passado'.
ResponderExcluirsem palavras.
lindos textos.
;*
jaya, flor, me desculpe mesmo por sumir, por NÃO TE LER agora, o que é bem pior, eu acho.
ResponderExcluirmas é que tô com pressa, e eu insisto em fazer as coisas quando não dá tempo e tô passando aqui voada, então nem ligue se não tiver concordância.
só vim correr, avisar que tem selo :*
verdade, eu às vezes acho melhor não entender nada que é pra poder curtir sem caber.
ResponderExcluirO problema é que doi do mesmo jeito. Sabendo ou nao sabendo do processo todo.
E voce é uma linda que escreve só lindeza hunf
O blog tá lindo.. deu um paz ler por aqui. Braco é O PODER rs
beijoooo amorinho
Só vim pra dizer que amei o novo layout ;)
ResponderExcluir*-*
Jaya, como é bom passar por aqui e ver que - ao contrário de mim - tens postado sempre. Em certo momento, seu texto me lembrou uma música do Sérgio Sampaio em que diz assim
ResponderExcluir'leros, boleros, traga branco seu sorriso, em que rua em que cidade, eu fui mais feliz?'
Adorei o texto, suave.
Ah! Gostei daquele dos Los Hermanos também, sabe? aquele?
Bj's