E amizade dada é amor.
[João Guimarães Rosa]
[João Guimarães Rosa]
Disseram que amor é mesmo assim: quando consegue deixar caber pessoas em suas letras, aperta tanto que o jeito é ficar de mãos dadas, lá dentro. Fica fazendo pose de sem-fim. De querer fincar e ter asas, ao mesmo tempo. E as demais palavras do vocabulário, todas elas, ficam envergonhadas, disfarçando o medo de perder sentido diante dessa palavrinha que diz um mundo. Que sustenta um sentir inteirinho. Disseram que amor é palavra grande, quase nem cabe. E o que é a amizade, senão amor duas vezes? Amor acostumado.
Eu poderia fazer uma canção. Um sambinha manso sobre essas pessoas encantadas que hoje carregam um tiquinho da minha bagagem. Mas minha música eu faço é assim, no papel. Cada um coloca a melodia que entender melhor. Importa é conseguir tocar. E junto a isso, fico pensando também em falar sobre afinidade, que foi quando reconheci o que também era meu, nelas. E na maneira fantástica como um cheirinho de alegria tomou conta do meu sorriso assim que foram, uma de cada vez, estrelas que são, penduradas em meu coração, tão ansioso por novos enfeites. Hoje, ao tê-las por perto, alugo os brilhinhos de cada uma. O pagamento é gentileza, sortida, a longo prazo.
A primeira delas, quando caiu, carregava ternura pendurada em cada cacho daqueles cabelos compridos. Um exagero de delicadeza e palavras que só me impulsionavam a querê-la bem. Muito bem. Um respeito pelos sonhos em comum que se casaram e passeiam juntos, ainda hoje. As outras duas vieram misturadas, por outro caminho. Uma miudinha, bailarina, feitinha em todos os detalhes para o amor. Daquele tipo de poeminha que, se não tivessem feito, eu trataria de inventar. A outra, leve, levinha, pintada de azul e branco, sorrindo paz e entendendo muito de mim. A mais doce criatura de todas as que levam seu nome. A quarta delas, pousou depois, chegou me desarrumando com aquela alma menina. Levava um jardim no rosto e um abraço nos olhos, abrigo para mim. Presentes. Coisa já traçada. Pessoas inevitáveis.
Eu tive tempo de ir firmando devagarinho cada detalhe. Desembrulhei cada uma com muito cuidado e coloquei no canteiro, para observar crescer. Até que enraizou. De brotinhos pequenos que eram, hoje os frutos são colhidos em qualquer estação. São quatro espécies, quatro tons, quatro afagos. Quatro Marias. Sentimento já convencido, sorrindo um para o outro.
Hoje existe essa alegria a cada vez que posso olhá-las, desarmada. Hoje me sinto mais aqui, porque me sinto nelas. Existe aquele orgulho em apontar de longe e dizer: são minhas amigas. Amigas. Extensões de mim. Esses retalhos já tão bem alinhavados, porque dessas coisas bonitas, na vida, a gente costura é com afeto.
O tempo, apesar de meio desmantelado, deu seu jeito e fez tudo parecer a hora certa. Porque sobra essa capacidade de ir atrasando o relógio e mergulhar no passado enquanto o futuro é tela. É no presente que eu remonto a ausência de não ter vivido nos primeiros anos de cada uma. Não estávamos lá nas primeiras recordações, não sabemos de onde vieram as primeiras cicatrizes. Mas temos tempo. Temos histórias do nosso tempo. Nossas mesas de bar com tantos sorrisos despencados, bobagens caídas debaixo das mesas. Nossas vozes misturadas, nossos silêncios, cinema, teatro, viagens. Uma super lua no céu, quando no primeiro encontro de todas debaixo do mesmo teto.
Temos o Líricas., com essa poesia das horas antigas no agora. Essa vontade mútua de sermos um tanto bem maiores. E além do que temos, que venha o que queremos. E que nesses quereres possam caber (re)encontros, pés descalços, gargalhadas, pôr-do-sol, tons de vermelho, bossa nova, um brega depois de algumas doses, dança, letras, suavidade, sonho, festas de realizações, saudades matadinhas, livros, aniversários, manhãs enluaradas, noites amanhecendo, flores, fotografias ridículas, abraços, teatro, clareza, conforto. E mais todas aquelas palavras que eu nunca vou conseguir dizer. Falta nome. Sobra coração.
Eu vi. Vi quando cada uma delas dobrou as asas para sentar ao meu lado.
Eu poderia fazer uma canção. Um sambinha manso sobre essas pessoas encantadas que hoje carregam um tiquinho da minha bagagem. Mas minha música eu faço é assim, no papel. Cada um coloca a melodia que entender melhor. Importa é conseguir tocar. E junto a isso, fico pensando também em falar sobre afinidade, que foi quando reconheci o que também era meu, nelas. E na maneira fantástica como um cheirinho de alegria tomou conta do meu sorriso assim que foram, uma de cada vez, estrelas que são, penduradas em meu coração, tão ansioso por novos enfeites. Hoje, ao tê-las por perto, alugo os brilhinhos de cada uma. O pagamento é gentileza, sortida, a longo prazo.
A primeira delas, quando caiu, carregava ternura pendurada em cada cacho daqueles cabelos compridos. Um exagero de delicadeza e palavras que só me impulsionavam a querê-la bem. Muito bem. Um respeito pelos sonhos em comum que se casaram e passeiam juntos, ainda hoje. As outras duas vieram misturadas, por outro caminho. Uma miudinha, bailarina, feitinha em todos os detalhes para o amor. Daquele tipo de poeminha que, se não tivessem feito, eu trataria de inventar. A outra, leve, levinha, pintada de azul e branco, sorrindo paz e entendendo muito de mim. A mais doce criatura de todas as que levam seu nome. A quarta delas, pousou depois, chegou me desarrumando com aquela alma menina. Levava um jardim no rosto e um abraço nos olhos, abrigo para mim. Presentes. Coisa já traçada. Pessoas inevitáveis.
Eu tive tempo de ir firmando devagarinho cada detalhe. Desembrulhei cada uma com muito cuidado e coloquei no canteiro, para observar crescer. Até que enraizou. De brotinhos pequenos que eram, hoje os frutos são colhidos em qualquer estação. São quatro espécies, quatro tons, quatro afagos. Quatro Marias. Sentimento já convencido, sorrindo um para o outro.
Hoje existe essa alegria a cada vez que posso olhá-las, desarmada. Hoje me sinto mais aqui, porque me sinto nelas. Existe aquele orgulho em apontar de longe e dizer: são minhas amigas. Amigas. Extensões de mim. Esses retalhos já tão bem alinhavados, porque dessas coisas bonitas, na vida, a gente costura é com afeto.
O tempo, apesar de meio desmantelado, deu seu jeito e fez tudo parecer a hora certa. Porque sobra essa capacidade de ir atrasando o relógio e mergulhar no passado enquanto o futuro é tela. É no presente que eu remonto a ausência de não ter vivido nos primeiros anos de cada uma. Não estávamos lá nas primeiras recordações, não sabemos de onde vieram as primeiras cicatrizes. Mas temos tempo. Temos histórias do nosso tempo. Nossas mesas de bar com tantos sorrisos despencados, bobagens caídas debaixo das mesas. Nossas vozes misturadas, nossos silêncios, cinema, teatro, viagens. Uma super lua no céu, quando no primeiro encontro de todas debaixo do mesmo teto.
Temos o Líricas., com essa poesia das horas antigas no agora. Essa vontade mútua de sermos um tanto bem maiores. E além do que temos, que venha o que queremos. E que nesses quereres possam caber (re)encontros, pés descalços, gargalhadas, pôr-do-sol, tons de vermelho, bossa nova, um brega depois de algumas doses, dança, letras, suavidade, sonho, festas de realizações, saudades matadinhas, livros, aniversários, manhãs enluaradas, noites amanhecendo, flores, fotografias ridículas, abraços, teatro, clareza, conforto. E mais todas aquelas palavras que eu nunca vou conseguir dizer. Falta nome. Sobra coração.
Eu vi. Vi quando cada uma delas dobrou as asas para sentar ao meu lado.
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Para Agnes, Mariceli, Mai e Quel.
Um obrigada tremendo por fazerem essa cidade sorrir.
Por fazerem de mim, uma cidade que sorri,
enquanto compõem morada na rua mais clarinha.