Eu só queria dizer que me importo. Com todo mundo. Todo o mundo. Dizer que queria poder cuidar, amansar. Queria que soubessem o tanto de amor que tenho, porque tenho. Porque fui moldada em abraços e palavras precisas. Em gestos suaves, frágeis e tão transparentes, que amarro com pequenos nós, em cada cílio, todos os afetos que me são entregues. Derramam-se em mim a cada piscar. Queria que soubessem que se não existir amor nesse mundo, eu faço outro, tantos mundos quantos forem necessários, com o meu amor. Queria que soubessem que tem que ter brilho. É tudo feito para brilhar, você entende? Que soubessem, por último, que as lembranças, todas elas, me infinitam. Razão de tanto coração. E eu preciso muito ir. Tem esses acúmulos transbordando e quando uma só pessoa não dá conta de segurar, é preciso que se espalhe. O problema, tão inocente e clarinho, é que talvez não tenha problema nenhum, apenas - e tão somente, como se isso fosse pouco e descartável - sensibilidade demais.
Meu primeiro carinho é o sorriso. É também o primeiro carinho que levo.
Meu nome, senhor, é Gabriel García Márquez. Sinto muito: também não gosto do nome, porque é uma sequência de lugares-comuns cuja conexão nunca fui capaz de fazer. Nasci em Aracataca, Colômbia, há quarenta anos, e ainda não me arrependi. Meu signo é Peixes e minha esposa é Mercedes. Essas são as duas coisas mais importantes que aconteceram na minha vida, pois, graças a elas, pelo menos até agora, tenho sido capaz de sobreviver escrevendo.
Sou escritor por causa da timidez. Minha verdadeira vocação é ser mágico, mas fico tão encabulado tentando fazer os truques que tive de me refugiar na solidão da literatura. De qualquer maneira, as duas atividades me conduziram à única coisa que me interessa desde que eu era criança: que meus amigos pudessem me amar mais.
No meu caso, ser escritor é uma realização excepcional, porque escrevo muito mal. Tenho tido de me submeter a uma disciplina atroz para terminar meia página depois de oito horas de trabalho; luto fisicamente com cada palavra e é quase sempre a palavra que vence, mas sou tão teimoso que consegui publicar quatro livros em vinte anos. O quinto, que escrevo agora, progride mais devagar que os outros, porque, entre meus credores e minhas dores de cabeça, tenho pouco tempo livre.
Nunca falo sobre literatura, porque não sei de que se trata; além disso, estou convencido de que o mundo seria o mesmo sem ela. Por outro lado, estou convencido de que ele seria bastante diferente sem a polícia. Penso, portanto, que teria sido muito mais útil para a humanidade se, em vez de escritor, eu fosse um terrorista.