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Jaya Magalhães


Mais cinco minutos e não me restaria nada, só o amor.  

Em cinco minutos te vi naquela fila e pensei numa música antiga de batidas leves me colocando para dormir. Na verdade a banda tocava um cover tão mais lindo e as pessoas, todas, cantarolavam muito concentradas enquanto eu segurava em alguma mão para não me perder de mim. Em cinco minutos olhei para trás, você sorriu e não houve mais nada além da vontade muito urgente que meus lábios tiveram de dançar sob os teus.

Cinco minutos. Esbarrei de leve em teu braço e quis que você fosse esperto o suficiente para segurar minhas mãos já que eu não tinha bebido o suficiente para te enrolar na barra da minha saia longa. Em cinco minutos, moço, fiz planos sobre tua barba, teus cabelos pretos e teus olhos escuros. Cinco minutos e meu coração com sono querendo entrar na roda.

Cinco minutos bastaram para que você desse risada da minha piada boba e argumentasse com palavras desimportantes, querendo prolongar o assunto. Em cinco minutos eu quis que você visse a mensagem de quem já não liga para grandes acontecimentos em meu rosto antes que fossemos interrompidos por aquela voz apressada cruzando nosso (des)encontro.

Cinco minutos foi o tempo que me fez voltar ao mesmo caminho e me perder em meio àquela gente sem nem ao menos saber a marca do teu perfume para guiar o que os olhos não viam. Em cinco minutos preparei um beijo que começaria na tua testa e se adaptaria ao que o depois pedisse. O depois e todos os cinco minutos que viessem.

Em cinco minutos, você foi sem saber das histórias que amassei no guardanapo com provocações etílicas e o sentimento mais bonito do mundo vacilando sem saber qual direção tomar. Cinco minutos para te falar dos meus erros e te levar para esticar a noite num outro bar, beliscar teus braços, mordiscar tua orelha, te mostrar meus caminhos, entrar na tua vida e mandar um postal para quem possa se interessar.

Cinco minutos e eu tiraria um livro da estante para escolher a palavra mais docemente leviana e entregá-la a você. Cinco minutos e eu estaria falando da quantidade de coisas que poderiam sair da minha caneta destinadas ao jeito como você segura o copo. Cinco minutos e eu não te disse para ficar, mesmo querendo muito que você chegasse juntinho a mim, sem parar para analisar, enquanto me pedia um cafuné.

Cinco minutos, moço, e meu corpo gemendo imensidões depois das várias cervejas compartilhadas. Em cinco minutos a madrugada trouxe uma névoa que cercou toda essa cidade fria e eu, descabelada, só pensava em aquecer minhas pernas ao redor do teu ventre. Cinco minutos, minhas unhas sem os esmaltes vermelhos de sempre para te deixar pistas de como um pouco de pimenta me levaria para mais perto de você.

Cinco minutos e eu enumerando desejos nas pontas dos pés enquanto a maioria das pessoas descolava alguém para levar pra cama. Em cinco minutos faria uma coisa terrível: me apaixonaria por você. E repetiria coisas malucas de quem se alucina com sentimentos instantâneos, só para desafiar minha própria voz anestesiada. Cinco minutos e eu me desequilibraria e deixaria cair de propósito todos os versos apaixonados que já li, só para decorar teu casaco marrom.

Cinco minutos, desnecessária eternidade. Em cinco minutos você me deixou um texto e algumas horas de poesia. Cinco minutos e o que eu mais gostei em você foi o que aconteceu em mim. Cinco minutos e não sei mais a quem escrevo.

Mais cinco minutos e não me resta nada, amor. Perdi a hora.
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"Em um pulso, o sol; no outro, a lua: as mãos são feitas de céu." [Kerouac, J.]
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