Na minha escrita o amor vive à vontade. Na minha casa também. Em mim, o amor só vive; mas nunca vive só. É um abraço cheio de laços. Ele é a minha maior intimidade. Na minha cama, o amor nunca dorme, se espalha. Quando eu conto uma história ele faz tanta confusão entre meus lábios que é inevitável não sorrir. E vez ou outra, quando encontra as saudades ou as angústias de tanta vida que se vive, me molha o rosto, grudando meus cílios que se afobam como passarinhos na chuva – mas, logo depois, tal como os passarinhos, no bater de asas das pálpebras já se voa para o infinito. Amor não tem tamanho.
Em todos os
parágrafos da minha vida, o amor é reticente. Todas as minhas páginas são
monotemáticas. Toda a minha negação e tentativa de evitar que ele se derrame em
minhas linhas são inúteis, ele se joga nas minhas vírgulas com tanta
intensidade que até mesmo no disfarce mais perfeito enxerga-se seu gesto
excessivamente azul na minha caneta que pinta a folha branca. Azul e branco:
amor é céu.
O amor é a única
porta por onde aprendi a entrar. Chego abrindo as janelas com muita brandura,
que é para caber mais e sempre. Nas minhas letras miúdas o amor escolheu
descansar. E se eu escrevo pequeno assim é para dar espaço aos seus suspiros e
manhas. Eu nasci amando e ainda nem tinha escolhido sentir. O amor me traduz a
cada nova frase, descomplicando ou complicando demais. Aprendemos assim. Quando
não encontro o que dizer, invento palavras. Amar permite.
Escrevo o amor, sem
pretensões. É como o traço de um pintor em suas aquarelas: reconhece-se. Em
cada novo texto, já de início nota-se: mais uma de amor. Nos meus riscos tortos
o amor nunca pediu retidão. Ele salta dos meus olhos escuros quando pisco em
cima do papel, ele ensina meus dedos a dançarem sua poesia, ele mora em tudo o
que verte do meu lado de dentro. Anos atrás, quando rabisquei meu nome pela
primeira vez, eu já escrevia sobre o amor.
Escrevo sobre o amor
porque às vezes não tem mais tanto espaço aqui dentro, em meio às delícias de
sentir demasiadamente. As palavras, eternas extensões, passam então a me
abrigar. E não existe maior afago do que conseguir fazer caber em letras as
coisas mais bonitas que reconheço no que sou. O amor, mais do que crescer junto
comigo, cresceu em mim.
Desde que descobri
que mudando uma letra o amor podia virar verbo, passei a conjugá-lo. Encontrei
um plural onde escolhi me singularizar e hoje me alimento de um amor tão grande
que mal cabe num poema. E continuo a escrevê-lo, com todas as licenças,
pensando em livros inteiros. O amor agora tem até cheiro, esse que fica ali,
toda noite me esperando, entre aquele pescoço e aquela nuca onde respiro todos
os versos mais diletos que ainda não fiz.
No meu amor, a
escrita vive à vontade. Demora, se esconde, avisa que vai voltar e tira férias.
Quando aparece, vem misteriosa em suas entrelinhas. Monotemáticas. E precisa
explicação? No dia em que me deram meu primeiro lápis, eu não sabia escrever.
Algum tempo depois, eu ainda não sabia escrever, mas já desenhava um coração.
Talvez seja até aqui o único desenho que faço e que alguém reconhece de
imediato. Um coração. Linguagem universal.
Eu primeiro desenhei
o amor, para só depois (d)escrevê-lo.
Às vezes eu acho mesmo é que você é dona de todo o amor do mundo. Que ama desse jeito louco e intenso e que chega a morrer de amor todos os dias e continua vivendo.
ResponderExcluirPorque é isso mesmo, né? A gente olha pra você e vê logo o amor. Nos olhos, no sorriso, na voz. E acho que por isso você escreve sobre ele tão lindamente.
Texto lindo, nega. Mais um.
Amo você,
Ty.
Essa semana eu passei aqui pra ler sobre Dulce, sabia? E pensei "bem que jaya podia vir aqui" hahahahahaha
ResponderExcluirAcho que essa coisa de energia tem poder, mesmo.
Continuo não tendo palavras pra descrever o quanto admiro essas linhas suas. Vixe, mulé!
Eu só acho o amor bonito quando você fala dele, a verdade é essa.
BEIJO, MARAVILHOSA
Coisa mais linda. Posso dizer de novo que eu amei? Porque amei demais.
ResponderExcluirAh, o amor... Vindo das suas letras então...
É sempre uma delícia te ler. Eu perdi as contas de quantas vezes eu terminei a leitura com um suspiro doce, porque é isso que teus textos são: um suspiro doce.
ResponderExcluirDelícia de Jaya. Espero que tenha voltado para ficar.♥
PS: não sei que o deu no meu blog. Tô verificando isso. Espero que pare de pular propagandas indevidas :)
Nossa, que texto! É a segunda vez que leio suas palavras e termino sem as minhas.
ResponderExcluirTambém não me canso de escrever sobre amor, seja com ele, seja pela falta dele... Acho que num mundo torto como o nosso, cheio de problemas, tudo o que quero às vezes é escapar e fugir para um lugar aconchegante chamado amor S2.
Você traz a serenidade nas palavras Jaya. Você é o amor. As letras são reflexos desse teu sentimento que transborda fácil, fluído, natural. A gente lê e mergulha em um universo que vai se formando de maneira sublime, espontânea. Você escreve amor. Você nos escreve. Belo é sua entrega.
ResponderExcluirObrigado!
Talvez porque você SÓ seja amor e quando ele estoura, estoura em palavras!
ResponderExcluirLinda!