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Jaya Magalhães


Escuto o barulho das chaves. A porta abre e ele entra sorrindo intenções que ninguém mais saberia ler como eu. Em cada passo que o aproxima de mim, uma peça de roupa é lançada em algum canto da sala. Cola seu corpo no meu, doce, suave, me desembrulhando devagarinho, com gestos muito seguros. Daí então costura nossa pele uma na outra, medindo meu fogo com seu dedo em minha boca.

Joga meus cabelos para trás e me beija cheio de língua, saliva, excesso. Confessa sacanagens ao pé do ouvido e me observa ceder. Faz de mim templo para todas as suas vontades que abrigo com tanto ardor e voracidade que mal notamos já ter rodado a casa inteira até chegar ao quarto. Janela aberta para a lua, para as boas energias, para tudo o que puder iluminar de um jeito muito natural o que natural nunca deixará de ser.

Sem pudores, (re)conhece todas as minhas ruas, todos os meus cheiros, todos os meus pelos, todos os meus gostos. Morde minhas coxas, beija meu ventre, firma meus quadris, lambe meus seios, me faz gemer, tremer, querer. Acendo. Grudo nos seus cabelos, arranho suas costas, me molho com seu suor, deslizo meus lábios em sua nuca, amarro minhas urgências nos seus pelos e deixo o amor correr de cima a baixo.

Monto em suas costas, passeio por todos aqueles caminhos já tão conhecidos como se fosse mais uma vez a primeira. Me insinuo, saem faíscas dos meus olhos, queimo como incenso, deixando a fumaça impregnar o espaço com a essência mais aprazível que o instante poderia soltar em todo aquele ar inebriante de lascividades.

Me devora inteira, como se cada toque dos seus lábios em minha pele tatuasse todo o apetite, toda a delicadeza em me engolir aos poucos. Me bebe, me molha, desliza para dentro de mim, derrama-se. Minhas pernas abraçam sua cintura, guiam seus movimentos. Num balé esquisito e improvisado escrevemos um dos roteiros mais bonitos de todas as noites profanas - poesia para o nosso livro sem fim.

Nos consumimos, fundidos. Toques cada vez mais deleitáveis, os sentidos todos num mesmo ritmo, agradecendo, sorrindo. Toda a nudez vestida de paz. Meu corpo vira vilarejo. Ele enlouquece com as paisagens, faz ali sua casa. Escorrega nas ladeiras, acelera em todas aquelas curvas. Invade os cruzamentos sem olhar para os lados. Decora os melhores caminhos, rascunha um mapa minucioso em seus detalhes. Ignora as regras – estaciona onde bem quer. E na sua rua preferida, acende essa fogueira.

Viro brasa quando as chamas se espalham. Meu amor é inflamável. 


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