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Jaya Magalhães


Não ama quem não tem fé, quem nunca enviou aquele axé, quem nunca exaltou o amor. Não ama quem tem medo de ser pleno, de se perder no outro e ver o sentir ameno, sem ter noção da dimensão do amor. Não ama quem nunca foi ao cinema lotado, só para poder beijar mais demorado, fazer um carinho mais ousado, ficar mais íntimo da intimidade do amor. Não ama quem nunca deu um abraço eletrizado, que deixou o corpo inteiro eriçado, assombrado pelo fantasma do amor.

Não ama quem tem preconceito, quem não entende que se apaixona de qualquer jeito, seja qual for a cor, o sexo, a religião do amor – a maior religião é sempre o amor. Não ama quem nunca dançou juntinho, numa praça, no meio da sala, no escurinho, sem música nenhuma e no exato ritmo do amor. Não ama quem não vai nunca pra cozinha, e em meio a tanta ladainha, prepara coisinhas gostosas pro amor. Não ama quem nunca leu Vinicius e de tanto ouvi-lo falar da bem amada, quis ser a eterna namorada, mesmo quando não havia ainda nenhum amor. Não ama quem não passa o fim de semana na cama, num belo ciclo de ama e desama, se perfumando do outro e fazendo amor.

Não ama quem não conhece o mar, quem acha que é preciso saber nadar, e não mergulha nunca nas águas do amor. Não ama quem não sai por aí de mãos dadas, tomando qualquer caminho e dando muita risada, causando inveja no mundo por tamanho transtorno de amor. Não ama quem não sente ciúmes, quem não fica de cara fechada quando o outro vira pro lado e dá aquela olhada, se distraindo então do amor. Não ama quem nunca pegou uma caneta, de maneira prática e improvisada, e fez um poema ou uma crônica ousada falando do seu amor. Não ama quem nunca criou apelidinhos, amor, môzi ou benzinho, carinhos para tratar o amor. Não ama quem não tem liberdade, quem não sabe que a vida é prioridade e é muito melhor viver de amor.

Não ama quem tem frescura, quem se preocupa com a cura, e não se doa, com loucura, ao amor. Não ama quem não deixou a blusa marcada algum dia, em meio a todo o samba e poesia, quando o coração desmanchava em alegria ao ver passar o amor. Não ama quem nunca sentou à mesa do bar e engoliu, de virada, todas as borboletas desgovernadas que caíram naquele copo de cerveja gelada que refrescava o amor. Não ama quem sai apressado, tão rápido que nem olha pro lado, deixando no meio da rua ser atropelado o amor. Não ama quem cria receita, segue passos e a realidade rejeita, achando que vai encontrar no sonho a verdadeira face do amor. Não ama quem não tem asa, quem não faz do mundo sua casa, quem não voa no céu azul infinito de amor. 

Não ama quem nunca chorou, quem nunca sofreu ou se rasgou e encontrou no outro um afago de amor. Não ama quem nunca fez um manifesto, quem nunca ensaiou um protesto, exageros para chamar a atenção do amor. Não ama quem não é bom sujeito, quem trata o outro com desrespeito, não lhe entrega rosas nem presentinhos de amor. Não ama quem não tem paixão, quem não olha pro outro com tesão, vive uma eterna combustão de amor. Não ama quem não sabe falar baixinho, chegar junto, fazer um denguinho, encher de beijinhos o amor. Não ama quem não faz do outro alimento, casa histórica, monumento, e propõe em pensamento: que tudo ali seja tombado de amor. Não ama quem tenta dar nome, quem sente e de uma vez não assume estar absolutamente consumido pelo amor.

Não ama quem nessa vida lascada, com tanta bobagem padronizada, não se permite caminhar na estrada para viver o grande amor.


_________________________________

Escrito depois de transbordar em poesia
ao (re)ler, hoje, pela infinitésima vez,
Para Viver Um Grande Amor - saravá, Vininha! - 
e querer brincar de ser Poetinha.
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