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Jaya Magalhães


É que tem esse cheiro de vocêeeumisturados que fica no lençol todo sábado, porque é quando conseguimos passar mais tempo na cama. E sempre que você levanta, eu não abro os olhos, mas sinto cada passo dado minuciosamente leve, carregado desse cuidado em não me acordar, mesmo sabendo que já devo ter mesmo despertado. Puxo seu travesseiro para os meus braços, respirando seu cheiro ali esquecido e sorrindo sem nem perceber, porque é sábado e você vai voltar para mim dali há alguns poucos minutos.

É porque me olho nos seus olhos tão curiosos e penso que, meu Deus!, se tivermos um filho que olhe com essas mesmas lentes suas, conseguirei um dia ser ainda mais feliz do que já sou. Hoje já consigo entender que a melhor maneira de prolongarmos o que somos é deixarmos (re)nascer esse amor de uma maneira tão real e palpável que o mundo inteiro vai conseguir enxergar e acreditar que sim, ele existe. E brota.

É que antes eu saía de casa sempre com essa sensação de estar esquecendo alguma coisa. Depois de você, nunca me esqueço, e ainda te levo — em mim. Porque é bonito. Bonito de um jeito que parece até poesia, mas é mais. E aí eu escrevo. Escrevo e enfeito e crio palavras e metáforas e faço tudo desse meu jeito de sempre fazer e algumas pessoas pensam: não existe amor assim. E quanto a mim, sempre quieta, no meu cantinho, vou acumulando textos desse amor que não existe, só para depois publicar um livro inteiro questionando sobre quando foi que o mundo ficou assim tão cego.

É quando lembro do imenso fracasso que foi nossa tentativa, lá no início, de não nos apaixonarmos, enquanto devorávamos um ao outro completamente despreocupados em entender esse acidente cósmico tão sôfrego de tanta coisa boa demais que duas pessoas podem, despretensiosamente, entregar uma à outra. E na falta de intenção eu nunca amei tão bem. Nem você. É por isso que ainda hoje, quando você me olha de cima, meu coração samba tudo o que seu peito pulsa quando nos tocamos. Sem nenhum ensaio, sempre soubemos nossos ritmos. Tem dança ainda para essa vida e todas as outras, eu sei.

É que enquanto você pensa em pintar as paredes, eu penso que uma estante amarela ia combinar muito bem com o sofá. E porque inexplicavelmente sempre que te vejo se olhar no espelho meus dentes sentem essa necessidade obscena de cravar na sua pele. Enquanto sorrio, sinto a vida me mostrando o quanto foi importante sempre ser inteira, não esperar metades. Hoje somos extensões um do outro e assim eu sei que chegaremos a qualquer lugar. E estamos indo.

É que eu acho que se hoje o amor parasse para observar quem somos, iria ficar mesmo muito encabulado de ter acertado tanto assim, já acostumado com suas miras tão erradas. E aí penso que o amor é muita coisa, muito jeito, principalmente uma enorme falta de jeito. Até que a gente se ajeita.


Ainda bem.
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