Tenho uma sapatilha vermelha que uso quando sei que vou pisar em caminhos de ir além. Tenho sonhos tranquilos, saudades mansas e muito amor bom. Numa autobiografia eu inventaria um monte de palavras amigas para conversarem entre si enquanto afagariam entre vírgulas e com muito carinho o coração de quem se derramasse nas minhas histórias de ser quem sou. Acho muito importante falar sobre sentimentos, mas nunca aprendi. No entanto, isso nunca me desviou da poética irregular de tudo o que é. Sinto muito, por isso escrevo.
Suspiro demais, transbordo com facilidade. É preciso muito pouco para me tocar. As emoções me dançam sem nenhum ensaio e fico sempre enfeitada de acontecências. Meu alimento maior vem pelas veias, como num fio invisível onde só as coisas de fazer bem são filtradas para recarregar meus próximos passos. Aprendi sobre felicidade num dia que nem me lembro, mas sei que era fim de tarde, pois já havia descoberto ser essa a melhor hora para amar. Daí então um monte de coisa sem nome nasceu dentro do que eu estava sendo, e fui feliz dentro de quem descobri ser, ali. Com ele. É importante o fato de que felicidade seja também gente, porque eu, desde que (re)nasci, aconteci de ser muitas pessoas.
Felicidade é quando o amor voa pelo meu avesso e acende todas essas lanternas das vielas onde costumavam morar sentimentos bonitos que adormeceram, pois é fundamental que eles saibam que já é tempo de acordar. É quando um bocado de paz permite ladrilhar de azul bem claro todos os meus caminhos mais profundos. É quando na minha esquina principal percebo que me persegue tudo o que o olhar tão manso dele me entregou com um jeito de céu, quando o sol nasceu. Felicidade é quando todas as coisas muito lindas se juntam nesse interior inacabado que visto. Inauguro então uma casinha e na frente do espelho penduro tudo o que é de encanto. Quando o acúmulo se movimenta e me sinto habitar de tamanha completude, meu lado de fora sorri, porque reflexo sempre foi mágica.
Felicidade é quando nos descobrimos uma poesia mais leve e entendemos que, na cidade que somos, as construções internas são as mais importantes. E nos deixamos povoar.