You don’t know me
Bet you’ll never get to know me
You don’t know me at all.
(You don’t know
me – Caetano Veloso)
A revolução está apenas começando e você não faz a
menor ideia. Nossas línguas se comiam enquanto você falava um dialeto que a
minha imensa poesia não conseguia saborear. Pegamos fogo e as histórias que eu
tentava tatuar nas suas costas foram virando cinzas. Você não conseguia ler o
que eu estava usando quando te sorria. Não conseguia ver o som que perfumava
minhas palavras entorpecentes e atordoadas. Nunca me viu sambar e eu já sabia
que minha cadência era muita. Não, honey, não existiriam bombeiros suficientes
para apagar as faíscas que meu rebolado deixaria na roda – você sequer sentiu a
malemolência dos meus quadris ritmados enquanto seu requebrado não me permita
gozar. Suas cervejas puro malte nunca foram capazes de sintonizar o deleite do
meu cérebro que ama alucinado numa conexão jamais vista com a emoção. O
tanto de coração que tenho você nunca desvendou: minhas fraturas todas expostas
e cruas, cheias de paixões imponentes batendo em cada uma delas e você
covarde, sem ter noção do tanto de amor que uso assim que acordo de manhã. Se
você chegasse mais perto, rapaz. Se você soubesse. Eu só chego para preencher.
Me derramo inteira, mergulho fundo até no raso, porque tenho duas mãos cheias
de mundo e consigo desbravar as mais simples e complexas coisas que nunca
dormem.
Você não me conhece. Somos estranhos saindo de uma
rua cheia de sentimentos despedaçados. Ajeito meus cabelos e me olho muito no
espelho. Um mês e sou outra pessoa. Repito mantras e cânticos que entoam o meu
nome - quase nem percebo e já virei um espetáculo. Você iria adorar o lugar que
sou agora, depois que você começou a sair. O aluguel já não é mais para o seu
bolso. Estou explodindo e você não foi convidado a ver o clarão que a minha
música faz. Continuo louca. Sinto tudo o tempo todo e me permito pendurar todas
as minhas emoções no meu varal de céu. Vou desvendando uma por uma,
estruturando tudo o que toca muito forte, cheia de atenção. Silencio entre os pranayamas e tenho dado muita utilidade
ao amor que sou – tanto que daria para reflorestar essa cidade inteira.
Aposto que você nunca chegaria a me conhecer. Você
me disse um dia que nunca enxergou as coisas azuis como pinto. A cor do que significo e de tudo
o que enxergo. Você nunca me enxergou. Uma mulher sossegada e ansiosa, que não
liga se as coisas precisam combinar. Sinto e tudo existe. Ser humano é
diferente quando se tem Sol e Lua em Água. Tudo em mim extrapola o mundo, minha
placenta nunca se desconectou do infinito – tudo, absolutamente, é alimento. Minha
caixa torácica pulsa doce e cheia de fôlego. Você nunca entendeu o mar ou
sequer teve curiosidade em desbravar a cidade que embala o seu sono. Todas as
luzes que acenderam em você têm o meu dedo no gatilho. E ainda assim, me deixar
no escuro foi uma escolha. O que você não sabe, baby, é das fogueiras que
carrego nos olhos – meio bruxa, meio anjo e nunca antes tão mulher. Forte e
capaz de espetar o sol nas pontas dos dedos, cheia de uma energia que só tem
quem acredita. Em si mesma.
O amor é importante. Você até que tentou, mas não
conseguiu me quebrar. Eu até que tentei, mas já não fazia mais sentido me
espremer num lugar que teimava em compactar minha inteireza. Nasci para criar
cada vez mais espaço, ver o primeiro voo de um passarinho, escrever ouvindo o
meu sangue fervendo caminhos que não sei onde vão dar, andar na rua como quem
acaba de descobrir a visão, entrar num transe psicodélico enquanto leio um
livro que me enche de sentido. Nasci para mim. Nasci para ir renascendo e aqui
estou, vivendo mais um parto de mim mesma, numa versão inédita que dispensa
edição, sendo testada a cada novo parágrafo, porque não existe história mais
bonita do que aquela onde eu esteja.
Não sou mais você desde o dia onde acordei e seu nome bonito me levou de volta para a cama. Você já não me acorda, baby. Tudo o que não se movimenta dorme de alguma maneira, sim. Estou dançando e mudando de cor. Vermelha, entendo: minha maior vantagem é ser. Parece que vai chover e entre raios e trovões escorro urgente. A felicidade é uma estrela cadente – acontece, basta estar atento. Amanhã ainda é dezembro e você já não importa. Sou muito sentimental e a vida é de repente.
Não sou mais você desde o dia onde acordei e seu nome bonito me levou de volta para a cama. Você já não me acorda, baby. Tudo o que não se movimenta dorme de alguma maneira, sim. Estou dançando e mudando de cor. Vermelha, entendo: minha maior vantagem é ser. Parece que vai chover e entre raios e trovões escorro urgente. A felicidade é uma estrela cadente – acontece, basta estar atento. Amanhã ainda é dezembro e você já não importa. Sou muito sentimental e a vida é de repente.
Nunca mais me atraso para me encontrar.