Todo amor pode romper-se. É porcelana. Todas as histórias vividas antes de sermos mostraram a não tão manifesta violência dos sentimentos que deixam rachaduras. Andávamos por aí marcados, coração na mira, alvo de tantos (des)amores. E foi justamente ali, quando eu acreditava não mais estar acreditando, que tudo aquilo que parecia tão errado em você me acertou. Movimento que me trouxe a este instante, antecipando futuros, véspera de um importante amanhã, simplesmente porque decidimos documentar o que jamais carregará certeza, ainda que assinado e testemunhado.
Escrevo para que você saiba: não faço promessas. A única pessoa para quem me prometo é para mim mesma. Nascemos e vivemos a maior parte das nossas vidas até aqui sem sabermos um do outro e num sopro muito natural fomos empurrados a este encontro. Resolvemos dar as mãos intuindo que poderíamos ser tão dignos de moldura quanto arte exposta, e quase sempre somos. Driblamos zangas e infelicidades, amenizando o peso do mundo ao dividi-las. Encontramos caminhos saudáveis por onde ir, lugares intactos para construir e parece sempre mais oportuno olhar o mundo quando posso olhá-lo com você ao lado. Escolho seguirmos enquanto fizer sentido — poucas coisas fazem, mas você é um sentido que consigo alcançar. Tudo em você me alcança.
Nunca pensei em casar, sigo atenta e consciente: a maior probabilidade é a de não funcionar. Mas tem funcionado. E mesmo que acabe logo ali, enquanto passeamos de bicicleta pela orla e você lamenta o fechamento da última livraria do bairro, não deixará de ter sido. Porque o amor é, mesmo quando não mais está, ainda que finito e suscetível às incoerências das relações. Aceito você porque antes aprendi a me aceitar. Aceito porque os trabalhos domésticos não te assustam, porque exaltamos a liberdade como redoma, porque você enxerga a necessidade de não estancar alguns dos meus sangramentos, porque nossos conceitos de fidelidade se acolhem, porque você sorri e me ajeita, porque minhas palavras saem fáceis para abraçá-lo, porque você domina a arte de alongar a minha alma e, principalmente, porque depois de tanto, entendemos que sentimentos que cantam assim não acontecem sempre. É preciso aproveitá-los. Aproveitemos, pajarito.
Amanhã, caso eu não decida fugir, te entrego num beijo a certeza de que, apesar de não tê-la, eu estou.
E você?
|GW1