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Jaya Magalhães


Todo amor pode romper-se. É porcelana. Todas as histórias vividas antes de sermos mostraram a não tão manifesta violência dos sentimentos que deixam rachaduras. Andávamos por aí marcados, coração na mira, alvo de tantos (des)amores. E foi justamente ali, quando eu acreditava não mais estar acreditando, que tudo aquilo que parecia tão errado em você me acertou. Movimento que me trouxe a este instante, antecipando futuros, véspera de um importante amanhã, simplesmente porque decidimos documentar o que jamais carregará certeza, ainda que assinado e testemunhado. 
 
Escrevo para que você saiba: não faço promessas. A única pessoa para quem me prometo é para mim mesma. Nascemos e vivemos a maior parte das nossas vidas até aqui sem sabermos um do outro e num sopro muito natural fomos empurrados a este encontro. Resolvemos dar as mãos intuindo que poderíamos ser tão dignos de moldura quanto arte exposta, e quase sempre somos. Driblamos zangas e infelicidades, amenizando o peso do mundo ao dividi-las. Encontramos caminhos saudáveis por onde ir, lugares intactos para construir e parece sempre mais oportuno olhar o mundo quando posso olhá-lo com você ao lado. Escolho seguirmos enquanto fizer sentido — poucas coisas fazem, mas você é um sentido que consigo alcançar. Tudo em você me alcança.
 
Nunca pensei em casar, sigo atenta e consciente: a maior probabilidade é a de não funcionar. Mas tem funcionado. E mesmo que acabe logo ali, enquanto passeamos de bicicleta pela orla e você lamenta o fechamento da última livraria do bairro, não deixará de ter sido. Porque o amor é, mesmo quando não mais está, ainda que finito e suscetível às incoerências das relações. Aceito você porque antes aprendi a me aceitar. Aceito porque os trabalhos domésticos não te assustam, porque exaltamos a liberdade como redoma, porque você enxerga a necessidade de não estancar alguns dos meus sangramentos, porque nossos conceitos de fidelidade se acolhem, porque você sorri e me ajeita, porque minhas palavras saem fáceis para abraçá-lo, porque você domina a arte de alongar a minha alma e, principalmente, porque depois de tanto, entendemos que sentimentos que cantam assim não acontecem sempre. É preciso aproveitá-los. Aproveitemos, pajarito.
 
Amanhã, caso eu não decida fugir, te entrego num beijo a certeza de que, apesar de não tê-la, eu estou. 
 
E você?

|GW1
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Eu sei quem sou. Mas e você? Sabe quem você é? Quantas vezes você já quebrou coisas e pessoas? Quantas vezes você foi exposta depois de ser silenciada? Quantas vezes você criou para si uma referência e aceitou-a como sendo real antes de analisar suas próprias (re)ações dentro daquele ambiente? Quantas vezes você formulou conceitos e trouxe para a roda sem estar disposta a ouvir, consertar e analisar o que foi entregue dentro do que você mesma também causava? Quantas vezes você julgou mais fácil posicionar-se como vítima e entregar a culpa para que a pessoa mais próxima vestisse? Não coube aqui. Não cabe em mim.


Sou de poucas palavras, mas escrevendo falo bastante. Viro tagarela em ambientes onde me sinto parte e estou sempre sorrindo. Me importo. Muito. Com todo o mundo — especialmente com quem participa o meu. Amo. Protejo. Luto. Sou educada. Tão doada que precisei trabalhar na terapia os limites de até onde ir pelo outro. Aprendi a me posicionar. A me defender. A escutar afetivamente e a ter cuidado com a minha fala. Aprendi a dialogar. A cuidar do bom que um dia permiti que fosse plantado no que sou. Aprendi a me resolver. A não gritar, porque a palavra sempre alcança. E, principalmente, que o que acontece entre duas pessoas só diz respeito àquelas pessoas. Duas.

 

Não desconstruo imagens. Não aponto, não julgo e tampouco exponho. A vida sempre se encarrega de devolver-nos absolutamente tudo o que entregamos. Às vezes, em dobro. Desde que aprendi isso, levo cada vez menos coisas na minha sacola de mundo. Não me canso. Não me forço. Ficar ou ir embora, as portas deixo abertas. Só não aceito de volta. Todos temos nossas verdades. Tudo o que acontece é por elas carregada — e somente essas vivências são capazes de interpretar as acontecências. Mais ninguém. Não adianta, amada, você forçar. Eu não aceito. Eu não respondo. Eu não piso na imagem que um dia trouxe de você em mim, mas me reservo o direito de jamais revisitá-la. Porque para mim, você ousou despir-se de um jeito inesperado. Será que você não aguentou levar as mesmas coisas que me foram entregues? É tudo tão recíproco.

 

Eu posso falar quando algo me incomoda. Posso me posicionar diante do que me desagrada. Posso manifestar descontentamentos, erros, correções, incoerências. Posso, e ninguém me toma esse poder. Isso não me impede de, todas as vezes, seguir de ouvidos e olhares atentos quando você faz o mesmo. Mas, veja bem, quando ouso, até meu suspiro é afronta. Escrevo e você dá o tom. Falo e você não escuta. Você fala e quer ser ouvida. Você fala e não posso interpretá-la. Tenho que engolir e acenar positivamente, será mesmo? Você, que tanto prega, me explica, que igualdade é essa? O patriarcado, mais uma vez, expondo suas raízes. Não projete em mim SUAS questões. Suas inseguranças não me dizem respeito. Os motivos são todos bestas, mas você escolheu, mais uma vez, aumentá-los e dramatizá-los. Você me silenciou, lembra? Você. E agora não reconhece o comportamento tóxico e debochado que me dedica dia e noite, ainda hoje, em meio a bizarras formalidades por você criadas e exigidas. Nunca vivi nada assim. Você pediu respeito, mas não sabe respeitar. Tenho driblado todos os meus machucados e sido exemplarmente elegante, exceto pela comunicação tão imbecil diante da qual um dia resolvi debochar também. Mas você não faz o mesmo. Você me desrespeita e empurra desconfortos em público, inclusive diante de pessoas que nada tem a ver com suas escolhas. Sinto vergonha. Essa é a única vez que te permito algum ibope. Sua imaturidade me assusta. Se um dia você chegar aqui onde estou, talvez consiga enxergar como pisou em cima de coisas tão sutis que um dia ousaram ser construídas lado a lado. Eu desejo só o bem a você. Principalmente luz e alguma suavidade. Você sabe trilhar caminhos lindos. Escolha alimentar-se de energias leves. 

 

Aprenda a lidar com suas escolhas. Com o fato de ter me descartado tão prontamente da sua história esperando que eu não fizesse o mesmo. Somos muito parecidas. Para o bem e para o não tão doce assim. Tenha cuidado com suas palavras. Com suas pinturas. Com suas fotografias. O que existiu, existiu dos dois lados, lembra? Vivemos juntas. Está documentado. Já me curei das mágoas. Não houve lágrimas, mas algum desconforto no estômago que logo foi tratado após analisar minha jornada. Só me arrependo de tê-la começado, mas nunca do caminho percorrido. Foi através dele que pude ver o que você guarda. E o que você foi capaz de me entregar. Não recebo. Sigo firme na decisão de guardá-lá, intocável, salvando aquela primeira imagem do que já foi um dia.


Mas não é mais. Você, em mim, já não é. Tudo. 

 

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