O céu é uma explosão de cores que denunciam o humor local — e, é claro, em alguns dias oscila absurdamente. Hoje, por exemplo, a manhã estava muito acesa e limpa. No passar das horas, a tarde chegou cheia de névoa, tamanha era, que não se via o alto da serra. Já no entardecer, as cores saltavam numa aquarela que presenteava nossos olhares. Que sorte vê-la em emoções, cidade!
Fazemos divisa com o norte de Minas, daí então nossos sotaques cantam um pouco diferente do restante do estado — puxamos o “s”, sem chiar. Temos um pezinho nas Gerais e somos, por isso, muito agradecidos. Somos (especialmente se comparados aos soteropolitanos) um povo mais sério, de fala mansa, talvez de menos palavras e sorrisos; mas se você sorrir de lá, será tão bem-vindo que vai sempre querer estar. Abraçamos mais demorado, gostamos do som de viola e celebramos a chuva como todo bom sertanejo que se preze. Não temos mar, talvez daí venha a preciosidade com a qual tratamos as águas. Quando queremos praia, descemos para os Ilhéus e namoramos ali tudo o que Jorge enraizou um dia.
Estamos quase virando uma cidade universitária e a juventude ajuda a sorrir melhor os espaços antigos por onde pisamos. Daqui brotou Glauber Rocha, Xangai e Elomar. E no presente sopramos também novas vozes que recheiam a música brasileira e a arte de tudo o que é e está. Gostamos muito de praças, verde perto, flores com histórias e árvores robustas. Falamos gírias que nos identificam: oxe, véi, queta, moss! — esta é uma frase que todo conquistense raiz usa muito ou já usou pelo menos uma vez — e estamos crescendo tão rapidamente que dá orgulho apontar o que era e até onde vai. Estamos sempre indo. E chegando.
Vitória da Conquista, a Joia do Sertão Baiano, é a cidade que escolhi para estrear no mundo. É a cidade de onde fugi algumas vezes e para a qual sempre volto — coração não desenraiza, pode pesquisar. É aqui onde quaresmeiras, buganvílias, ipês, flamboyants e hibiscos enfeitam os redores e ganham outro significado. Quando estou fora, basta pousar os olhos nessas árvores/flores, que volto imediatamente para dentro. De mim.
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