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Jaya Magalhães


Tenho ido com calma, apesar de continuar caminhando muito rápido. Aprendi a respirar há alguns anos e desde então me demoro na tentativa de enxergar os sons que escuto. O que é realmente importante, enquanto passo desinteressada pelas ruas estreitas da cidade, é a ausência de poesia. Estão ali, todas as esquinas, esperando minhas letras que ainda não querem falar de você. 
 
Pinto minhas unhas de uma cor clara para disfarçar minha inaptidão manual para o que quer que seja. Escrevo, embora com letras miúdas. Sei entregar afeto entre panelas e temperos, arte esta ainda bastante reservada. Com essas duas últimas frases, desconstruo a anterior e te mostro um pouco sobre como me concluo e me acrescento reticências. Minhas mãos carregam o mundo inteiro ou quase nada, meu bem, depende do destino final.
 
Não procuro outra coisa além de alguém que tenha curiosidade em saber o lugar onde aprendi a andar de bicicleta, que consiga enxergar essa cicatriz quase invisível que trago no meu queixo e que queira saber os sotaques das cidades nas quais já me deixei. Alguém bem manso, que goste de ser acariciado por minha voz, que se entusiasme pelo que me impulsiona a escrever e que descanse os olhos e o coração quando me abraçar.
 
O que tenho para entregar? Apenas a mim mesma. Assim, muito séria e delicada, indo direto ao ponto, desenhando seus lábios com meu polegar direito, enquanto seguro seu rosto com as duas mãos e penso que os nossos beijos são os únicos assuntos que merecem ser tratados a vida inteira.
 
Acho tudo muito urgente. Vivo meu corre e às vezes preciso do mar para entender os próximos depois. Talvez não tenha ainda me deparado com a coisa mais bela do mundo, mas já estive em alguns amores e gostei de senti-los todos, mesmo quando não foi amor — porque mesmo assim a palavra escrita acontecia e me salvava do que não era. 
 
Nunca quis me casar e não sei o que isso pode significar além da liberdade de querer estar com. Demonstro interesse por tudo, mesmo quando talvez não me interesse tanto assim, porque é esse o momento onde viro especialista no modo como tudo em mim reage às pontuações das suas frases.
 
Meu hálito de cerveja, os primeiros fios brancos dos meus cabelos brilhando e recordo que preciso benzer os sentimentos todos antes que resolvam nascer, carinho. Tatuei jasmins no braço esquerdo, mas hoje tem flores amarelas na escrivaninha, energizando todas as letras; uma música que você nunca ouviu tocando no repeat, risadas com coisas banais que existem para salvar os domingos, o sol caindo na minha pele através da janela de vidro, a preguiça de fechar a cortina. Hoje eu só queria que pudéssemos dançar.
 
Para começar, essa página. 

 

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