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Jaya Magalhães


Estou te amando muito nesse momento.

Foi o espelho, é essa lucidez, você me mandando beijos soltos que pousam onde bem entendem, notícias, essa minha mania de nunca ser exata. Levantei com umas tendências que nem eram minhas, e olhei meus olhos a fundo. Me vi, através. Comecei a ler meus pontilhados de uma maneira tão avançada, cara. Meu rosto ali, tomado por lembranças tuas. Coisas astrais. Já faz um ano.

Em nós, você e eu, as coisas foram acontecendo aos pouquinhos. Muitos, muitos pouquinhos. O canto de Ossanha e meu desinteresse por Vinicius, sobriedade, discursos, a praia. Joguei infinitos conceitos para o alto porque só tua boca me interessava. Nunca havíamos amado. O fato é que tudo se perde muito rápido. Nós nos perdemos lentamente. Tudo é passado e amanhã não tem mais nada. Daqui mais um tempo, miragens. Porra, sabe? Tem coisa que pesa. Pesa mais ainda em mim, uma viciada nessa coisa de parasempre. Quanta dificuldade, quanta.

Estou fumando. É, voltei a fumar. Pensei em você com mais força, agora. Não penso em você sempre. Muitas vezes é só balançar a cabeça e você vai embora. Acontece sem preparos. Outras vezes, um incêndio sacana surge, e eu não apago. As chamas sempre me fazem entrar em erupção. Violo todos os nossos pactos realizados tacitamente. É uma angústia, um incenso, cheiro de álcool, suor. Eu não sei mais chorar e aprendi que existem flores para todos os instantes. Hoje uso gerânios.

Te escrevo porque é noite, está quente e me convém. Ando íntima de pessoas tão perversas, Leo. Faço barulho, berro de prazer e dou dentadas em pedacinhos de vida. Tenho conversado com tanta gente, tenho me sentido tão longe de todo mundo. Ninguém me traduz. Virei um deserto e nada mata minha sede. Gente demais me dá um silêncio, cara. Pra agora, eu só queria quê. Conversas baixinhas, brincadeiras com minhas mãos, uma sacudida com qualquer filosofia fodida, dilacerada, porque a poesia já acabou faz tempo.

Ontem arranquei coisa pra caramba aqui de dentro. Com minhas unhas, mesmo. Te liguei e fiquei muda, de repente. Em minha voz não coube o excesso de palavras. Ela despenca ao te ouvir, antes de ser entregue. E se de repente eu te escuto, vou para a rua. Você me leva. Atraso passos, te imaginando na esquina seguinte. Batuco músicas com os dedos, sentada à mesa, enquanto meu coração pulsa teus passos inexistentes. Sinto teu cheiro pelo corredor. Quinto andar. Você sorriria ao me ver assim, vestida de mim, e só. Ninguém sabe me traçar com os olhos como você faz.

Já é tarde e eu estava precisando sentir. Sentir. Sentir tudo. O poeta disse: é preciso estar sempre embriagado. É preciso, sim. Embriagado de vinho, vida ou um sorriso teu. Porque por um instante eu perco o medo de me entregar. De ser. E penso que o amor é essa coisa assim, que tomam de você a vida inteira. E sempre vai ter. Sempre tanto. Tanto. É como quando você me deu aquele último abraço e eu me descobri cheia de corações. Seria impossível tamanho rebuliço por conta de um só pulsar. Eu tenho um coração em cada canto. Um acúmulo bonito de coisas que não consigo nem mostrar.

Te escrevo porque, caminhando, vi uma coisa desse jeitinho, todinha azul, completamente blue e lembrei de você. Pessoas sorrindo, um amor acontecendo em algum lugar. E quando o relógio anunciar as duas horas da madrugada, eu escrevo mais uma taça e saio daqui poema.

Eu quero muito ser feliz, cara. Com ou sem toda essa nossa simbiose monstra. A vida é muito mais barra sem você, constato. Te envio então esses meus recortes de um decalque quase-romântico. E te escrevo porque sempre haveremos de ser necessários.

Que todas aquelas coisas lindas te aconteçam,

Isabela.

P.S.: Continuo a andar descalça. Acredito que amanhã vai ser um dia bom e vou fazer muita gente feliz. Gastar amor. Quebrar a cara. Let it bleed.

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Meu coração não se cansa
de ter esperança
de um dia ser tudo o que quer.


[Coração Vagabundo - Caetano Veloso]

Achei um amor debaixo da mesa do bar. Havia montes de anúncios brilhando em volta, uma poluição visual bem louca, e aquela poesia escancarada das noites amarelas de verão. Love blues. A bebida me adocicava por dentro, para ser sincera. Estranhei. Eu sou amarga. Sorri sem esperar nada da vida, e fui feliz. Línguas emboladas, palavras decifradas por dentro, segredos vindo à tona. Um gole a mais e eu já era bailarina.

Entre cochichos, gargalhadas, todo mundo ali mendigava carinho. Recitei Cazuza. Ardia. Eu poderia ser encontrada como nunca fui, naquelas horas. Tudo o que já escrevi, coube ali. Encenado. Despejado. Porque eu, na verdade, tava doendo. Ainda tô. Vai ser assim por um tempo, a amiga disse. E tanto, tanto foi dito. Sentido. Exposto.

Eu contei como amo. Desesperadamente inteira. Vacilando. Exagerada. Sem-razão. Maltratei minhas emoções, queimei meus versos, chorei. Doeu. Notei que, enquanto eu silenciava, ele era só meu. Uma vez palavreado, passou a escapar de mim aos poucos. Decidi então que deixaria o amor ir, para ser de todo mundo. Para estar salvo.

Briguei com Chico enquanto ele veio me falar de coisas que eu vivi, que ele viveu, e que acabou. E que depois vai começar de novo. E acabar. E começar. É um ciclo. De tanto contar, pensei: era tanto que não dei conta. Pensei e não disse. Deixei pedaços vermelhos do esmalte pelo chão. Eu me apaixono demais, tem muitos pedaços espalhados por aí.

Eu ouvi, também. Todo mundo ali já amou imenso. Percebi pelo jeito de sorrir. Toda vez que um amor vai, a gente perde um jeito de sorrir que tinha. Levei pancadas deliciosas, verdadeiras. Muita coisa rompeu. A vodca veio temperada com momentos de silêncio. Eu me apaixonei pelo violão do moço. Me apaixonei pela luz que me vestiu. Me apaixonei por todas as palavras que foram ditas. Emudeci. Ouvi coisas realmente bonitas e lembrei dele, dono de todas as coisas mais bonitas que ouvi. Perdi o olhar, discreta. Parei de lembrar. Cansei de inventar.

Minhas cores estão todas borradas, porque eu bati histórias românticas no liquidificador. Hoje à tarde choveu. Minha memória foi se perdendo de propósito. Já não detalho muita coisa. As lembranças pedem para virar imaginação. E eu tenho um medo bem grande, agora. Medo de deixá-lo passar. Porque sei que passa. Medo de deixar de amar. Penso que amar, para mim, é uma distração. Eu saio por aí catando amores que tropeçam no meio fio. Me apaixono por qualquer despertar. Minha alma tem vezes de prostituta, precisa disso tudo. Errado, assim.

Mas daí você vai sofrer de novo, dizem os medrosos. E o bom da vida é o que? É sentir. Des-pe-da-çar. Refazer. Quando tudo se rasga, quem costura sou eu. Dou conta. Se amanhã eu acordar e resolver amar pra caralho, eu amo. Ele, você, outro. Ponto. Que venha a mim todo o amor que houver nessa vida, o tempo inteiro. Meu coração vagabundo quer guardar o mundo em mim.

Então, tinha um amor debaixo da mesa do bar. Coube no meu copo. No meu corpo. E eu já era bailarina.


_______________

André, Clarinha, Glau, Mila e Rafa. Quero, hoje, abraçá-los com um monte de palavras doces.
Deixar escrito o obrigada, por permitirem que eu me deixasse um pouco em vocês. Obrigada.

Todas as coisas são possíveis.

Nós somos.
O amor é.
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