outras páginas.

Rebeca.

Se soubesses o bem que eu te quero
O mundo seria, Dindi
Tudo, Dindi
Lindo, Dindi.

[Tom Jobim/ Aloysio de Oliveira - Dindi]

Para quando você aprender a ler.

Precisei te trazer para perto. Cheirar teus olhinhos de meia-lua. Te imaginei sentada em meu colo, com aqueles cachos soltos e sapecas, tais quais teus sorrisos. Quis teu abraço-apertado-que-salvava-meus-dias. Quis você me contando tuas histórias onde encaixava tudo aquilo que ia aparecendo, enquanto, simultaneamente, gritava comigo segurando meu rosto para olhar para você enquanto fala.

Você nem sabe que, enquanto ficava criando mundos com teus brinquedos, eu me pegava te olhando e rascunhando você em mim. Nem sabe o quanto tento te colar nesses meus planos de uma vida inteira. E porque hoje fiquei observando tuas fotografias antigas, lembrei daquele vinte e três de fevereiro, à tarde, todo mundo na expectativa para enxergar teu rosto. Lembrei de estar em casa, ansiosa por notícias. Do telefone tocar, e alguém dizer: nasceu. Tá tudo bem. E é linda. Rebeca é linda.

Naquela noite fui ao hospital. Fui dormir com você. Você sempre de olhos fechados. Bochechuda, botão-de-rosa, e linda. Eu te amei ali, totalmente desprevenida. Porque senti você atingindo meus cantinhos e fazendo um afago que eu nem sabia existir. Te olhei a noite inteira. Você nem dava trabalho.

Porque então comecei a desconfiar se você não era um anjo. E você nem tinha asas, ainda! No dia seguinte, você ao meu lado, duas bolas escuras olhando em minha direção. Peguei você no colo, segurei tua mãozinha e você agarrou meu indicador. Pensei que isso nem existisse. Claro que você não vai lembrar disso, mas eu me derreti como ninguém nessa hora. E meus olhos se umedeceram assim, disfarçadamente. Igual agora, quando os fecho e imagino tua presença. Teu dengo. Teu jeito carinhoso. Teu amor para com a gente. A maneira como você arranca nossas risadas a cada descoberta. A cada palavra. A cada beijo melado.

Lembro de você sentada, com todo aquele jeito de flor, de encanto, fazendo estripulias. Nunca vou esquecer aquela tarde amarela, numa Boa Vista sempre amarela, onde você perguntou: tu gota mim? E diante da minha afirmação efusiva, respondeu que eu gota tu, também. E você tinha acabado de aprender a falar, seu belisco! Aprendeu a falar, a me fazer chorar. Aprendeu a ser minha, ser sempre minha.

Hoje você é uma boneca. Às vezes borboleta. Toda colorida. Cinco anos. E eu sinto falta de quando você só dormia se fosse agarrada a mim, embalada por uma canção de ninar qualquer. E da maneira como você acordava mau-humorada se o sono não fosse bom o suficiente.

Eu às vezes fico olhando a porta do quarto, nessas manhãs de domingo, imaginando que de repente você surja abrindo-a e pulando em cima de mim, toda serelepe. E te imagino rindo da minha antipatia. Hoje, também, eu lembrei você me dando tchau, indo para a escola na maior pose de gente grande. Lembrei do primeiro dia, você chorando, eu chorando, e todo mundo querendo te deixar lá contra minha vontade. É bastante doídinho, Beca. Essa ausência da tua pureza, tua inocência, teu jeito doce que me fazia te apertar inteira, até você ficar vermelha e sem forças, entendendo o quanto tua irmã é louca e precisa de você.

Daí nessas horas eu fico assustada com o mundo, que não é como a gente sonhou, e me forço a procurar os pedaços menos pesados dele, para que sejam teus. E vou te entregando assim, aos poucos. Enquanto isso, fico daqui de longe, querendo te ver voando por aí, fazendo música, rabiscando quadros, pirraçando, correndo, tropeçando, andando de bicicleta, tomando banhos de chuva, brincando de ser feliz, e sendo, de fato. Fico com tua vozinha ao telefone. Fico contente que você já consiga falar comigo, sem os soluços chorosos de antes, enquanto minha mãe dizia que você abraçava o telefone ao ouvir minha voz dentro dele. Fico te querendo bem todos os dias, e olhando tua foto linda pendurada no meu mural. É o meu melhor motivo, até então.

Eu amo você, Rebeca.

Gravo essas palavras para serem tuas. Para você ler quando souber fazê-lo. E me telefonar. Ou me abraçar. Ou apenas me firmar em você, me entregando um pouco do teu lirismo, e me permitindo te carregar em meus bolsos. Você comigo, seja lá para onde eu for.

________________

Espero que você goste de Tom. Escuta Dindi.
Eu assino com ele, hoje, pelas histórias minhas. E de você também.

Que é a coisa mais linda que existe
.

Comentários

  1. Linda, linda como sempre.
    Lindo também esse amor, esse carinho, essa proteção que sinto em você por ela.

    E lindinha ela também *-*


    Um beeijo doce, flor!

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  2. agora eu entendi o : 'pra quando você aprender a ler'.

    muito fofa a Rebeca (:

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  3. Há muito eu passo pelo teu blog, mas sempre lendo. Nunca achei minhas palavras boas para comentar em teu blog. Parecia muito bom para comentários tão pobres como os meus. Mas aprendi a separar as diferenças e não acho que tenha tanta diferença assim. Claro que a tua percepção de vida é bem maior do que a minha, mas espero ter uma percepção como a tua.
    E agradeço o carinho no meu blog, de coração!

    E adorei a Rebeca, apenas pelas palavras como descreveu-a. Linda essa irmandade descrita aqui. Belíssimo e nem sei mais o que falar sobre o texto, rs.

    Quanto aos textos que já postou e apagou: sei bem como é essa obrigação de sempre ter um texto novo, mas não viva de obrigações. Quem aprecia uma boa leitura, lerá várias e várias vezes o mesmo texto. Ainda mais palavras tuas, tão belas! Não há descrição que traduza-as.

    Falei muito, rs.
    Um beijo.

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  4. Que coisa linda, Jaya!
    Lembrou-me de uma música do Roberto Carlos, chamada Traumas. Tenho o áudio do Los Hermanos cantando também. rs

    Rebeca é uma flor, um encanto, retratada por tuas letras e com tua visão, que corresponde à realidade dela.

    Muito lindo, Jaya, regue essa flor.

    Beijos.

    Ah, concordo contigo, quando falou no meu blog que a escrita é uma terapia. Uma explosão, até. rs

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  5. quando minha mãe ficou grávida pela terceira vez eu tinha 15 anos. hoje ela tem 11. eu olho pra ela e, as vezes, ainda não acredito que seja parte da minha vida e que está crescendo. Melissa. esse é o nome da minha pimentinha, da raspinha do tacho...

    é mágico, eu acho! e como eu a amo, meu Deus... e fico a olhar, babar, e imaginar que ela vai crescer me aflige. por mim ela continuaria pequena mantendo a inocência besta das crianças. besta pq não tem malícia, nem maldade, é só brincadeiras e sonhos de princesa.

    essas coisinhas mexem com a gente né Nêga?!

    beijíssimos pra você.

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  6. Quando a pequena Rebeca aprender a ler, vai ficar tão encantada quanto tu ficou ao vê-la depois de nascer.

    Ficou lindo o texto, lindo como vocês duas juntas.

    Beijão, Jayammm!
    Ps. acho que não vou suportar o blog fechado por muito tempo kkkkkk!

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  7. Jaya,

    Céu, tão grande é o céu
    E bando de nuvens que passam ligeiras
    Pra onde elas vão
    Ah, eu não sei, eu não sei
    E o vento que fala nas folhas
    Contando as histórias que são de ninguém
    Mas que são minhas
    E de você também
    Ah! Dindi
    Se soubesses o bem que eu te quero
    O mundo seria Dindi
    Tudo Dindi, lindo Dindi
    Ah! Dindi
    Se um dia você for embora
    Me leva contigo, Dindi
    Fica, Dindi, olha Dindi
    E as águas desse rio
    Onde vão eu não sei
    E a minha vida inteira
    Esperei, esperei
    Por você, Dindi
    Que é a coisa mais linda que existe
    Você não existe, Dindi
    Deixa Dindi
    Que eu te adore Dindi
    Oh! Dindi
    If I only had words I would say
    All the beautiful things that I see
    When you're with me
    Oh, my Dindi
    Oh, Dindi
    Like the song of the wind in the trees
    That's how my heart is singing, Dindi
    Happy, Dindi, when you're with me
    I love you more each day, yes I do, yes I do
    I'd let you go away if you'd take me with you
    Don't you know, Dindi
    I'd be running and searching for you
    Like a river that can't find the sea
    That would be me
    Without you, Dindi



    Beijos moça no teu ♥

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  8. E eu fico daqui imaginando, o quão doce deve ser ter você por perto. Sabe, amiga mesmo! De conversar até tarde.
    Saiba, que você me alegrou muito com tua presença delicada hoje em meu blog.
    A verdade é que fico contente toda vez que aparece.
    Sobre a Rebeca, ela é uma fofa!
    E o texto ficou belo demais! Me fez chorar daqui. Eu também tenho um pequeno que espalha os carrinhos pela casa e tem os olhos mais doces que já vi.
    Te adoro Jaya!
    Seja feliz sempre!
    Beijos e um abraço apertado pra ti, girassol!

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  9. ai, que fofura! e ela é a sua cara mesmo, pela foto. e tem cara de ser danadinha! mas doce...

    essa menina vai chorar quando crescer e ler isso. mas vai ser mais feliz ainda por ter tanto carinho.

    tô com saudades, Jaya. tô tão corrida que nem tenho tido inspiração pra escrever...

    beijos!!

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  10. Jaya.

    Eu amei as sete coisas sobre ti!

    Feliz dia internacional da mulher, meu bem!

    Beijos girassol!

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  11. A Rebeca é LINDA, e esse amor enorme tb! Beijão!

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  12. Rebeca vai ter um troço quando ler esse texto! Amor demais aí dentro que você solta no ar pra todo mundo sentir, Jaya! Chega aqui numa facilidade incrível que a distância não é capaz de atrapalhar. La la la la la a distância perdeu essa!

    E sim! Rebeca é linda. E esse sentimento deixa a gente mais forte. Mais corajosa e mais valente. Como vc é.

    Amotu.

    Saudade me consome.

    Tenho novidades. Uhul!

    Aparece!

    Bejomeliga!

    Glau

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  13. Crianças são seres incríveis... sempre me fazem sentir coisas indescritíveis. E vou repetir o que muitos disseram: a Rebeca é linda. Tão doce!
    Um beijo

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  14. Ah, Jaya, como você consegue escrever tão lindo assim? Você me emocionou demais com esse texto. Imaginei-me sentindo tudo isso por uma filha e que coisa boa deve ser ter um anjo desses por perto nos amando e nos inspirando tanto amor!

    Ela é linda, linda! E lindo é esse amor puro de vocês!

    Um beijo enorme, querida!

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  15. Anjo de Bruma.


    Quero agradecer pelo veneno anti-monotonia contido naquela carta. Me deu uma força, que você não imagina o tamanho.


    Aceito teus braços.
    E aconteça o que acontecer:


    "Não solta das minhas mãos."


    Um beijo sagrado no coração.

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  16. Eu passo tanto tempo longe daqui e, quando retorno, é para me deparar com uma coisa linda dessas!!! A mesma avalanche de sentimento palpável de sempre; a inundação lírica tradicionalmente jayística que eu adoro.

    Ah, a minha dose diária de suspiros com sorrisos. Como estava com saudades de visitar isso aqui!!! E agora se firma mais ainda em minha memória o porquê de tanta saudade!!! =)

    Texto pra chorar, sorrir e suspirar!!!

    Beijaya!!!

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