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Jaya Magalhães






Agora não pergunto mais pra onde vai a estrada. Agora não espero mais aquela madrugada. Vai ser, vai ser, vai ter de ser, vai ser faca amolada. O brilho cego de paixão e fé, faca amolada. Deixar a sua luz brilhar e ser muito tranquilo. Deixar o seu amor crescer e ser muito tranquilo. Brilhar, brilhar, acontecer, brilhar, faca amolada. Irmão, irmã, irmã, irmão de fé, faca amolada. Plantar o trigo e refazer o pão de cada dia. Beber o vinho e renascer na luz de todo dia. A fé, a fé, paixão e fé, a fé, faca amolada. O chão, o chão, o sal da terra, o chão, faca amolada. Deixar a sua luz brilhar no pão de todo dia. Deixar o seu amor crescer na luz de cada dia. Vai ser, vai ser, vai ter de ser, vai ser muito tranquilo. O brilho cego de paixão e fé, faca amolada.





[Milton Nascimento]




_________________

É por aí. Meu Deus, tem que ser por aí!
Em transe, na voz dos Doces Bárbaros,
saio daqui, hoje, amando.
A tudo. A todos.
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Duas vezes amor, para a mineira.

Porque o dia é dela, já nas primeiras horas vou conseguindo unir em letras todas as coisinhas que quero entregar. Minha luminária faz amarela apenas essa parede. Esse papel. É preciso que um sol seja escrito e caiba inteiro nessa manhã que chega dentro em algumas horas. Preciso enfeitar o dia para que ela acorde com várias cores entrando pelas frestinhas de sua janela. Um horizonte belo. Eu, aqui do lado de cima do mapa, fico brincando de medir com os dedos a distância física que nos alcança. Ignoro. Traço planos para abraçá-la. Escrevo.

Fecho os olhos procurando as palavras mais lindas para amá-la, hoje, de um modo diferente. Por uma distração, tenho a certeza de sermos feitas da mesma matéria. Fomos colocadas no mundo uma com um pedaço da outra, para que houvesse a certeza de um encontro. Nos encontramos. Me encontrei nela. Ela, encontrou-se em mim. Veio um ano antes, para me explicar. Ela me explica. Eu a entendo. Sou a página da esquerda. Ela, a da direita.

Olho para trás e vejo o primeiro abraço, há dois anos. Abraço de sonhos. De amores vividos, amores guardados, histórias, falar de si, doer em par, falar da vida. Do bom da vida. Descobrimos que não nos importamos em morrer de amores todas as semanas. Vivemos para isso. O coração dela carrega um manifesto estufado de poesias exageradas. Porque o lindo existe dentro da moça em quantidades desproporcionais. Na desproporção foi onde eu coube. Onde couberam minhas malas. Meus segredos. Meu amar primário.

Houve um dia um momento de silêncio, respeitado por ambos os lados. Eu quem rasguei. Pensei que houvesse retalhado cada vírgula já sonhada. Costurei outra vez. Costurei desajeitadamente, quando ela voltou e saiu pingando reticências naquilo que nunca foi ponto. Nesse dia me assustei: Glau era a minha interpretação para qualquer coisa que se denomine doce. É o motivo da minha ida ao belo horizonte, para encontrá-la. Um abraço materializado, motivo de ternurinhas derramadas em todas as histórias que partiram dali. Meu amar segundo. É o motivo pelo qual escureço essa folha branca, hoje.

Motivo de um querer bem. Motivo de um sorriso terno. Motivo de um sustento, quando aquele amor teve que ir embora. O meu, o dela. Da ausência de pudor em demonstrar toda a dor sentida. Motivo de alguns dos e-mails mais lindos que já recebi e escrevi na vida inteira. Quando escrevo para ela, pareço escrever para mim mesma. Ela abre minhas metáforas. Eu a desenho. Eu choro todas as minhas verdades e ela me acolhe com tantos braços quanto forem possíveis. Eu a encontro brotinho e saio flor. E eu torço tanto por ela! Para que as coisas sejam as mais delicadas possíveis e que saibam caber direitinho nos cantos onde ela precisa. Torço para que a vida faça festinhas sem necessidade alguma, só para que ela sorria. É importante que ela sorria.

É importante que eu continue a rir da cara dela enquanto ela se desespera e vive noites insones por conta de um amor imenso. E lindo. É importante que ela xingue e tome decisões que vai esquecer de cumprir no dia seguinte. É importante deixá-la tensa vendo verdades nas loucuras que ela enumera. Importante que ela saiba que fico comendo meus esmaltes enquanto aguardo os resultados de toda e qualquer estripulia às quais ela se submete. É importante apoiá-la sempre. Importante que ela entenda essa minha coisa de ser maria-pão-de-queijo [porque, cara, o que são os mineiros, an?]. Importante que ela chegue em casa com calos nos pés, de tanto dançar, enquanto me conta todas as novidades. Importante que ela tenha me levado à rodoviária e tenha segurado minhas mãos geladas ao subir as escadas para amar de perto. Importante que ela compre todos os filmes da cidade e me convide para assistir e ficar de perna para cima. Importante que ela me chame de nega. Importante que ela ame Friends e não ligue para o meu jeito meio Mônica de ser. Importante tê-la estressada com o trabalho, com a fase final da faculdade, com as viagens planejadas. Importante é acreditar nela. É que tudo dê certo, porque eu sei que vai dar certo. É que ela saiba ser dona do melhor abraço do mundo. É que ela saiba que toda a simpatia que transborda daquele sotaque é que me fez montar uma casa dentro dela. Importante é fazer parte de tudo o que ela compõe. É poder dizer que ela é a minha mais amiga loira. O meu grande amor mineiro.

Escrevo agora já desconfiando que hoje será mais um dia onde colocarei os pés para fora de casa e olharei o muro ao lado com a velha interrogação de sempre: por que Glau não é minha vizinha? Mas depois vou lembrar que hoje, mais que todos os dias, ela está em tudo. Em minhas saudades, principalmente. E vou agradecer. É tão bom tê-la em minha vida!

Preciso dela para que a vida se misture e tenha trilha sonora de forró, xote, samba, sonho, festival de cachaça, comida de boteco, sol infernal de Belo Horizonte, praça da Liberdade. Preciso pela liberdade em sermos quem somos, sem precisar dosar. De sermos crianças, sermos chatas, sermos gayzinhas e amaramaramar contando tudo uma a outra, sermos rabugentas, dizermos da infância, sonharmos um futuro. Preciso dela para ser feliz. Com ela. Por ela. Ela chega até aqui. Chegava até o norte. Eu estou no sudeste. Ela é minha praia nas Minas Gerais. Todo o meu amor pelas Minas Gerais. E uma razão pela qual a Bahia se enfeita azul, nesse dia dez de maio. Dez vezes encanto, enquanto amanhecemos por dentro, vendo todo esse teto lá fora sendo tela para vinte e quatro estrelas. Estrelas amadurecendo para despencar nela, confirmando tudo o que cintila enquanto traça seus caminhos.

Eu amo você, pretinha. Amo duas vezes. Do jeito mais bonito que consigo. E sem jeito também.

Toma aqui, então. Leva meu abraço em todas essas letras. E meu sorriso de cinco meses atrás, enquanto preparamos o próximo.

Agora vai ser feliz,
tres-lou-ca-da-men-te f e l i z,

Jaya.

P.S.: Feliz Aniversário, envelheço na cidade!
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