Você dormindo, um calor intenso, a janela aberta, o teto tão cheio de céu, teu corpo cansado. A respiração tranquila parece narrar um sonho
bonito. Teus lábios cerrados me pedem beijos de um jeito insistente, ainda que
nada falem. Você muda de posição, a coberta desliza e me deixa desvendar tua
pele. Você, em plena madrugada, vestido de si mesmo, cena para uma poesia que
eu nunca vou saber escrever – melhor vivê-la ao teu lado.
Meu desejo se alarga, contorno teu mapa com as
pontas dos meus dedos. Um rosto ainda tão moço, belo, suave. Tuas pálpebras
acalmando teus olhos escuros e muito expressivos – agora fechados, acordando
sonhos. Tuas sobrancelhas grossas, muito leves e tranquilamente repousadas. Tua
barba inquieta desenhada ao redor da boca silenciada, guardando tua voz, macia,
doce, tão acostumada a me chamar de amor. Bagunço teus cabelos e faço um
cafuné, cheiro tua nuca, beijo cada canto. Você dormindo e tudo em mim sendo
insônia só para te levar ao meu palco.
Me ajeito na cama e sinto tanto ardor – por você,
por mim, por essa noite. Me ajeito na cama e meus olhos te procuram
novamente em cima desses lençóis já muito usados de um casal acostumado a
trepar demais. Sorrio. Eu tenho a sorte de um sentimento que sempre (re)começa. Hoje, eu amo você com uma lua em cada retina – e nesse novo sistema lunar,
teu corpo é o centro do meu universo de vontades.
Você existindo é tão bonito. Puxo devagar o que a
coberta ainda esconde e assisto. Teus olhos acendem. No vão entre as
tuas costelas sinto o coração bater na palma da minha mão, que te acaricia.
Meus pincéis aquarelam teus mamilos, tua barriga, tua virilha quente. Meu pé
sobe pelas tuas pernas. Minhas mãos te perseguem, fauna e flora. Minha língua
lambe todos os teus gostos. Meus olhos são teu melhor ornamento, tudo de mais
mágico que existe em mim vai sendo derramado em você nesse esboço sem pressa. Me esqueço só para você me lembrar.
Eu aprendo você a cada dia, para acertar todas as tuas
questões. Meus olhos curiosos e de olheiras já arraigadas, recordam teu caminhar
pela casa, nu, iluminado, dançando, me abraçando, tirando a minha roupa para
combinar com a falta da tua. Nós dois em frente ao espelho,
tatuando nossas imperfeições que parecem tão perfeitas umas para as outras. Nossos
pelos, nossas cicatrizes, nossos corpos que vestem tão bem nossas almas – tão violentamente
bem alimentadas. Descanso no teu peito e escuto o que ressoa. Durmo, acordada dentro de você, que eu sonho.
Eu aprendo você só para esquecer todas as desimportâncias que um dia
decorei. É espontâneo. Instantâneo. Teu corpo, matéria - junção das partículas de tudo o que mais gosto de admirar.
"Nesse novo sistema lunar, teu corpo é o centro do meu universo de vontades"
ResponderExcluirEsse é possivelmente um dos contos de romance mais lindos que já li. É puro, podia dizer até que é cru pela simplicidade que passa. É um amor quase que palpável, quase que eu pude sentir também. Eu realmente espero que não seja fictício, ou que se for, que tenha um tiquinho de verdade aí porque foi lindo. E seria incrível saber que você vive isso. Amor. Puro e verdadeiro.
Parabéns!
Com carinho,
Conto Paulistano.
Por isso que voce não pode parar.
ResponderExcluirTua poesia escorre pelos poros da alma.
São nos pedaços perdidos de mim que te acho e
te guardo pra nunca mais devolver..
Lindo texto,
tu tem a sorte de um amor tranquilo
com sabor de fruta mordida...
Beijos gata
Salvador esta fervendo!
☺
Nossa, que lindo.
ResponderExcluirTao sensivel.
Parabéns.
Abraco profundo.
Sara.
Intenso, apaixonante e sensível.
ResponderExcluirBelíssimo! Tu escreves lindamente.
Beijos e um ótimo feriado.
Feliz de quem é eternizado nas suas palavras! Belíssimas, como sempre. Sinestésicas mesmo individualmente: todas, até as mais simples, de repletas de sentimentos transmitem uma mar de sensações.
ResponderExcluirBeijos, Jaya!
Ah...
ResponderExcluirQue delícia de texto! Concordo com Selma: é um dos contos de romance mais lindos que já li. Você escreve os sentimentos, as vontades, os desejos, o amor, de um jeito muito seu. E tão puro e sincero que a gente quase consegue pegar de tanto que faz a gente sentir. E eu adoro isso.
Saio daqui mais uma vez querendo encontrar um amorzinho na primeira esquina. Hahaha.
Vários beijos em você.
Uau! Que texto é esse minha gente?! Maravilhoso.
ResponderExcluirTão bom te ter assim, escre(vi)vendo, pulsando em cada linha, em cada verso.
Tão bom te ler, Jaya.
Um xero enorme.
Mãe do céu que texto!! Como sempre continuas deixando sem chão e os pés no céu.
ResponderExcluirPra mim é sempre um prazer ler-te Jaya! Saudade de você no instagram e na sua página dos seus escritos. Não entro frequentemente no meu blog como gostaria e não escrevo tanto quanto antigamente, mas continuo não me vejo mais sem me expressar pela poesia.
Um beijão, Jaya.
Esse é aquele texto que deixa o sexo como tem que ser: bonito e sagrado. Li cada linha com devoção. Eu sempre fico besta com as tuas palavras e a forma como você nos faz ver poesia em tudo que existe. Sorte desse moço ser poesia. Sorte dele.
ResponderExcluirQue bonito, Jaya! Cheguei a me arrepiar em cada linha.
ResponderExcluir"Você existindo é tão bonito".
Que bonito ler isso. Guardar no coração...
É sempre um aconchego vir aqui. Obrigada.
Que lindo, me lembrou Tati Bernardi, mas levemente... Tua literatura passa uma sensação de acalento. Vontade gritante de sentir coisas recíprocas.
ResponderExcluir