outras páginas.

Éden.

Para ele, o meu brou.

Eu sempre falo dele sorrindo. E deixo repercutir: édenédenéden. Meu irmão. O paraíso avesso. A paciência curta. As sobrancelhas grossas, sempre expressivas. O jeito de monstro quando acorda passeando pela casa coçando a cabeça. A insistência em cantar alto e totalmente sem tom qualquer música que saiba acompanhar. A simpatia. As piadas internas, risadas só nossas. O choro que chega sem pudor nenhum, seja lá qual for a situação. A preferência por massas. As músicas dos hermanos gritadas aos sábados pela manhã, quando estávamos sozinhos em casa. As brigas. A cumplicidade. A forma como se preocupa comigo. Os ciúmes. As lágrimas na rodoviária a cada despedida. Os eu te amo que ele diz e eu guardo nos olhos para que ele enxergue os reflexos diante da minha mudez. A certeza: desde que ele veio eu não fui mais sozinha. Não sou. E vou relembrando cada coisinha bem devagar e com muita ternura.

Até então, nunca havia meditado acerca do evidente: sou mais eu quando sou ele. Consigo ser todas as que me compõem, quando em sua presença. E ele só não me suporta quando sinto dor, o que eu até perdoo, por se tratar de uma das minhas piores versões.

Éden é o primeiro dos irmãos. Foi quem me moldou. Quem me ensinou a dosar as ações, reações, explosões. Mordidas, puxões de cabelos, televisores derrubados e mágoas. Eu nunca mais vou falar com você! Para ouvir um quem disse que eu ligo? E um sorriso no dia seguinte, derrubando as máscaras mais sérias para dar vez ao que sempre é maior. O nós, quando já não tem mais você e eu.

Lealdade, perfeição torta, defeitos. É amor. Amor daqueles costurados no ponto mais bem feito. Mãe quem costurou, a linha nunca se desfaz. É a chance da eterna meninice quando em casa, de histórias, de me ver pequena com ele ainda menor. É daquele amor que se diz o tempo inteiro, em meias-palavras. São vergonhas expostas num final de tarde, entre beliscões e gargalhadas. Palavrões. Um olhar que puxa recordações quando as pálpebras resolvem virar gavetas para o passado de felicidadezinhas.

Com ele eu soube deixar crescer o amor-amor. Soube amar por amar, sem importar se cabia ou não. Foi como aprendi a torcer. A apoiar as ambições e loucuras dele, só para notá-lo em paz. É o orgulho que sinto por sua valentia, por sua sinceridade. Pela maturidade que, ainda que desande às vezes, aparece como conquista. Pelos medos tão meninos que vão adormecendo para que acordem aquelas outras coragens tão necessárias que tanto quero vê-lo sendo possuidor.

Todas essas palavras talvez nunca tenham sido ditas. Sempre julguei desnecessário expor o que meu coração sente tão óbvio. Parece desleal gritar para o mundo esse monte de amor, porque não existe amor assim. E eu me sinto tranquila por não precisar de aviso nenhum para fazê-lo ciente dessa história toda.

Se eu pudesse escolher, diria que é assim mesmo que prefiro. Prefiro telefonar para ele e fazê-lo dizer tchau só para poder dizer: quem ligou fui eu, você não pode desligar. E enrolar toda vida. Prefiro aquela fotografia no jardim, onde ele tem o pé machucado e um rosto que me conta algumas coisas que doem. Prefiro lembrar do Chico Bento em um de seus primeiros bolos de aniversário. Prefiro estar em paz na fazenda enquanto ele fica inquieto e solta fogos na hora de ir embora. Prefiro lembrar dele a cada vez que escuto Um Par. Prefiro ainda as histórias cheias de detalhes que nunca têm um final lógico. Sua risada espalhafatosa. Sua mania de bater boca por nada e qualquer coisa. Seus carinhos únicos, chegando a lembrar um gato implorando uma delicadeza. O dom de me fazer passar vergonha. Nossas caminhadas compridas, cantando. Prefiro mais assim. Menos de qualquer outro jeito. Mais ele, comigo.

A conclusão é a de que tudo é coisa desse amor-tanto. Amor-tonto. Tudo o que guardei e não paro nunca de compor. Para amá-lo agora, mais tarde e o tempo inteiro. Sem tempo. Como a dezenove anos.

Sou por você, brou. Não vou parar de ser antipática com minhas opiniões intrometidas: digo tudo pelo querer-bem, que é imenso. E seja lá o que for, seja lá no que for dar, se essa vida tiver alguma razão, eu faço a porra toda desarrazoar, se ficar melhor para você. Entorto os pontos todos de qualquer direção e cruzo os caminhos mais impossíveis, para te acompanhar.

É tudo pra caralho. Tudo isso. Tudo em nós, esses nós.


Sem você sou pá furada.

[Paquetá - Rodrigo Amarante]


Comentários

  1. Quando eu li no meu scrapbook: "vai no Líricas" já bateu aquela emoção. Sei lá, sabia que ia ser pra mim, sabia que ia ser lindo e mais do que isso, sabia que ia conseguir me emocionar. HOHOHO. Sim, chorei!

    Eu sei como funciona o nosso amor. É engraçado mas, antes me perguntava, "Jaya raríssimas vezes diz que ama, por quê?". E aí sempre noto que amor só precisa ser sentido e nada mais! Que você sempre demonstra seu amor, mesmo não dizendo com todas as letras T-E-A-M-O! Ele aparece na hora dos conselhos, das preocupações, das milhares de horas conversando e rindo, em tudo, até mesmo nas viagens horríveis de avião, onde aparecem a enxaqueca e as cólicas!

    Lembro de você todos os dias, peço a Deus que te dê proteção e saúde. Fico nervoso só de pensar na prova da OAB, acho que até mais que você!

    E a gente seguiu em frete, mesmo longe um do outro. Nem sei como aguento! HAHAHAHAHA. E naquele dia, em Conquista, na frente do seu cursinho preparotório a gente se despediu, aí na hora que virei a esquina chorei, chorei e chorei mais ainda. As pessoas passando na rua notando a minha cara! Naquela hora foi só um pouco de desespero. A ausência começou a ser notada na primeira volta sozinho pra casa, na primeira noite sem ter você no quarto ao lado, no primeiro final de semana onde o tédio comandava e não havia ninguém pra rodar a cidade de madrugada.

    Hoje eu me acostumei, mas sempre com as nossas melhores lembranças na cabeça.

    Ansioso por nosso próximo encontro, espero que dessa vez possa rolar a praia!

    Te amo.

    =*

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  2. Confesso que me sinto constrangido em comentar em algo tão pessoal. Algo tão de vocês. Mas não é isso que move? É o amor, e deve ser exaltado.

    Seria um pecado deixar passar em branco algo tão lindo.

    Sincero demais, sentimental demais, bonito demais. Vocês merecem todo esse amor, essa cumplicidade de irmão.

    Até eu que não tenho nada a ver com isso fiquei emocionado.

    E ele não poderia ser diferente, sendo seu irmão, você que é tão maravilhosa. rs

    Beijos, Jaya.

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  3. P.S.:
    Eu tava lembrando daquela minha foto que eu tô no jardim em Poções.

    Todo vez que eu parava pra olhar aquela foto, ficava pensando porque eu estava ali sozinho.

    Na casa de minha vó achei uma outra, que foi tirada momentos depois. Adivinha quem estava ao meu lado!? Simmmm, você bêibê!

    HHOHOHOHO, só isso mess.

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  4. "Prefiro ainda as histórias cheias de detalhes que nunca tenham um final lógico."


    Vai ver é isso.
    "Histórias com final feliz, são histórias que ainda não acabaram."


    O difícil para mim é saber como nossas vidas vão se construindo para depois ir desmoronando aos poucos, até que viremos um manto de cinzas e as volutas da poeira se debruem sobre algum outro teto que não iremos morar. Por puro capricho estético.



    Te abraço com saudade.

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  5. Seu texto me emocionou bastante. Me fez pensar o quanto sinto saudades do meu irmão. Ele lá em Roraima, eu aqui no Espírito Santo, já vai pra um ano que a gente não se vê... A saudade é imensa.

    Obrigada, mesmo.
    =*

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  6. Ah, oi, Jaya tem um irmão chamado Éden? Massa! hahahaha
    Ele tem blog? Tem o perfil aí nos comentários, mas é trancado. :s

    Bonito, né? Carinho assim. Sou assim com meu irmão não.

    Adoro essa frase de Paquetá *--* Pá furada *--*

    E você sempre será a pioneira do Gábis, sim? A PIONEIRA! hahaha
    Beijo, fofa.

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  7. Oooown, que lindo, que doce, que emoção!

    E eu, que não tenho irmão... fico me sentindo perdida, vazia, pá furada, quando leio de um amor tão lindo!

    Beijo nos dois!!!

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  8. Ah, isso foi lindo... =')

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  9. Amor de irmão é mesmo assim, lindo de se ver, mais ainda de se ter.

    É algo muito complicado às vezes, quando está longe quer estar junto, quando está junto não consegue ficar perto. Mas quando consegue... É aí que complica. Não só cabe, como transborda amor.

    p.s.: Sabe que sempre quis ter um irmão mais velho? rs

    Beeeeeijo, florzita.

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  10. Primeiro: que nome lindo do seu irmão, achei massa! hahaha

    E eu acabo de notar que não importa quando, nem nada, irmãos são quase-sempre a mesma coisa: muito amor.
    E é um amor estranho né? Vivo dizendo isso: eu nao tenho porque amá-lo, mas eu amo taaaaaaaaanto.. rs

    É, coisa mais linda do mundo vocês dois.
    beijo beijo

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  11. amor de irmão é tão lindo! eu fico admirada com seu carinho pela sua família. entendo isso, Jaya. sinto também. é de aplaudir esse post, não só pelo texto em si, mas pelo exmplo de amizade sincera com seu irmão e de amor verdadeiro.

    eu, chata? ai,tô mesmo! não consigo escrever,menina...
    um saco, isso!

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  12. Texto escrito na data em que eu completei meus 23. Na data que recebi meu 1o scrap de parabéns teu (espero que de vários outros). E hoje, dia 5, venho nessa madrugada te ler e ficar arrepiado.

    Que amor bonito, o de vocês.
    Eu te admiro demais, Jaya.

    Um beijo doce de quem estava com saudades do Líricas e matou com gosto! :)

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  13. Jaya moça,
    Suas palavras me deixaram emocionada.
    Lembrei do meu brou que morreu precocemente, tão novo e tão lindo!
    Assim é a vida. è a vida!
    Saudades de você,

    Beijos meus

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